Os trajes despojados e as barbas por fazer que caracterizavam grande parte dos integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) durante a ditadura militar, época áurea dessa que é considerada uma das instituições mais tradicionais do Brasil, passam longe do estilo de Augusto Chagas, atual presidente da entidade. Os cabelos cuidadosamente esculpidos com ajuda de gel e as roupas bem comportadas combinam melhor com o paulistano de 28 anos, nove passados dentro da universidade e ainda sem previsão para se formar no curso de sistema de informação. O longo tempo na graduação é um prato cheio para apelidos como ;estudante profissional;, rechaçado com veemência por Chagas.
;É uma acusação injusta e de quem não conhece a realidade da instituição. Na prática, estou abrindo mão de interesses pessoais para defender uma causa coletiva;, afirma, para, em seguida, confessar que o pai não é um entusiasta da ideia de postergar a conclusão dos estudos. ;É complicado porque a maioria das pessoas que começaram a faculdade comigo estão formadas. São profissionais já inseridos no mercado. Mas o motivo é nobre;, justifica.
Augusto Chagas não tinha qualquer envolvimento com a UNE até o primeiro ano de faculdade, quando integrou uma chapa, formada só por calouros, que venceu as eleições para o diretório acadêmico. O primeiro contato com a entidade foi por meio de materiais impressos. O ambiente de discussões políticas e sociais conquistou o jovem. Até então, tinha críticas severas contra a participação de partidos políticos nas atividades estudantis. Mas como é praxe dentro da instituição, mudou de opinião e, em 2005, filiou-se ao PCdoB, legenda que domina a cúpula da instituição há 19 anos, com 10 presidentes eleitos em sequência. Ele garante, porém, que não tem qualquer plano de se candidatar a cargos estaduais ou federais quando deixar a entidade.
Sobre o PCdoB, o presidente da UNE diz que não há instituição no país que mais renove o quadro de lideranças. De fato, a sigla teve quase 50 presidentes em pouco mais de 70 anos de história. A hegemonia de ideias, no entanto, é inegável com a presença do PCdoB tantas vezes à frente da UNE. Apesar disso, Chagas faz questão de ressaltar que a entidade estudantil só tem prestígio pela pluralidade de correntes políticas e que as eleições são as mais democráticas possíveis. ;O PCdoB tem muita tradição em eleger presidentes da UNE, mas não acho que isso comprometa a democracia aqui dentro. Os nossos congressos reúnem simpatizantes de todas as ideologias e partidos.;
Dinheiro público
Chagas, que se declara torcedor do São Paulo Futebol Clube ;desde criancinha;, revela que tem convicção em quem vai votar para presidente da República nas eleições de outubro. Contudo, prefere manter seu voto secreto para que não haja confusão com a decisão da UNE de não apoiar candidato específico para o pleito que vai suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele considera uma vitória a neutralidade da instituição e destaca que o fato é uma amostra de independência em relação ao governo federal.
Um levantamento realizado recentemente pelo site Contas Abertas mostra, porém, que a União Nacional dos Estudantes recebeu do governo Lula 11 vezes mais em comparação à gestão de Fernando Henrique Cardoso. Enquanto a administração do presidente petista rendeu R$ 12,9 milhões à instituição, o cacique tucano não foi tão generoso com a entidade e chegou a passar quatro anos sem repassar qualquer quantia à UNE. ;Eu ainda não estava na UNE nesse período (Era FHC), mas acho esse tipo de apoio legítimo. A maior parte do dinheiro vem de emendas parlamentares;, justifica. Vale lembrar, no entanto, que qualquer valor oriundo das emendas particulares é dinheiro público. ;Posso assegurar que todos os trâmites financeiros da entidade passam por todos os mecanismos de fiscalização exigidos;, informa.
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