A senadora Marina Silva (PV-AC) ficará licenciada do mandato até 17 de junho para se engajar na pré-campanha à Presidência da República. Embora não receba salários do Senado durante o período, ela manterá o gabinete, que conta com 23 funcionários, enquanto prepara o futuro programa de governo e a revisão programática do partido. O PV ficará responsável por pagar vencimentos de R$ 16,5 mil à parlamentar, enquanto durar o afastamento. A ex-ministra do Meio Ambiente investirá o tempo longe do Congresso Nacional para cumprir uma agenda de visitas no país e no exterior ; incluindo uma escala na Colômbia, onde o candidato do PV local, Antanas Mockus(1), lidera a corrida presidencial.
O anúncio da licença no Senado foi feito durante visita da candidata a Curitiba ontem. Desde o início da pré-campanha, Marina já esteve no interior da Bahia, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Além disso, voou até Washington, nos Estados Unidos, para participar da série de eventos em comemoração do Dia da Terra. Como Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) têm dedicado tempo integral à corrida eleitoral, a senadora decidiu se desvencilhar do mandato antes do início da campanha oficial, em julho.
Durante a visita a Curitiba, Marina fez coro com Dilma e criticou a criação de um Ministério da Segurança Pública ; proposta ventilada por Serra. A senadora licenciada defendeu uma reforma na área, o que não aconteceria somente com uma nova pasta. ;Não é uma questão de criar mais ministérios, é questão de se fazer uma reforma da segurança pública no país e, a partir daí, sim, tendo a visão, se estabelece o processo e criam-se as estruturas;, sugeriu.
Aliança
No período de afastamento do Senado, a pré-candidata apostará na aproximação com o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). ;Marina vai procurar Ciro em tempo hábil. A gente acha que é conveniente deixar a poeira baixar, mas apostamos que ele pode deixar a postura do PSB de lado para apoiar Marina;, diz o coordenador da campanha verde, Alfredo Sirkis. Além do fator Ciro, Marina pretende colar sua imagem à de Antanas Mockus, candidato favorito às eleições na Colômbia.
A um mês da eleição do sucessor de Álvaro Uribe, Marina e sua equipe tentarão importar alguns dos modelos que levaram Mockus à dianteira da corrida eleitoral. Com campanha focada em mobilizações sociais, o candidato do Partido Verde colombiano teria 38% das intenções de voto, segundo pesquisas do Instituto Ispos. ;Tentaremos juntar a experiência em gestão urbana que o Mockus acumulou com a questão amazônica da Marina. Podemos criar um novo eixo de esquerda democrática na América Latina;, ambiciona Sirkis.
1 - Liderança
Ex-prefeito de Bogotá por duas vezes, o professor de matemática e filosofia Antanas Mockus saiu de modestos 8% das intenções de voto para a liderança da corrida presidencial colombiana. Em um eventual segundo turno, de acordo com pesquisas, bateria por 50% a 44% o governista Juan Manuel Santos. Com a plataforma de campanha escorada sobre a promessa de trazer ;decência; ao país, o candidato verde mantém passada firme rumo à chefia do Executivo, graças à formação de diversas redes sociais e às doações de campanha pela internet ; Mockus recusou cerca de R$ 3,5 milhões do financiamento público eleitoral colombiano.
Ciro pede afastamento
O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) formalizou junto à Mesa da Câmara pedido de licença de 30 dias. No documento, o parlamentar alegou motivos pessoais, mas a assessoria de imprensa do deputado não informou o motivo do afastamento. Antes mesmo de se licenciar oficialmente do trabalho, Ciro não compareceu às sessões do mês de abril. Envolvido com a luta partidária para sair candidato à Presidência, da qual saiu derrotado, o deputado pelo Ceará deixou de lado o trabalho legislativo. De acordo com o regimento da Casa, a licença de 30 dias não abre possibilidade para a convocação do suplente de Ciro, o pastor Pedro Ribeiro (PR-CE).
Palanque fluminense
Pré-candidata à Presidência da República por um partido considerado mediano ; o PV tem 20 deputados federais e um senador ;, Marina Silva pressiona para que os nomes com forte potencial eleitoral concorram aos governos estaduais. No Rio de Janeiro, o palanque com o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) será definido na segunda-feira.
Há uma reticência declarada do candidato verde em costurar acordo com o ex-prefeito do Rio e pré-candidato ao Senado Cesar Maia (DEM). A solução encontrada pelos coordenadores da campanha foi lançar três candidatos ao Senado. Gabeira pediria votos para Aspásia Camargo (PV) e para Marcelo Cerqueira (PPS) e teria como vice o tucano Márcio Fortes. Maia faria campanha isolada.
A solução, porém, depende do sinal verde da Justiça. Se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não permitir as três candidaturas ao Senado, Aspásia perderia a cadeira. Mesmo assim, Gabeira descarta pedir votos para Maia durante a campanha. ;Se for fechada a coligação, vai haver alguma programação com ele também. Mas, de um modo geral, a campanha se desenvolverá com sua dinâmica própria. Em certos momentos, pode acontecer encontros. Na rua se encontra de tudo, até os adversários;, pondera Gabeira.
O acordo a ser sacramentado na semana que vem prevê a divisão da aliança entre os palanques de Marina Silva e do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. No primeiro turno, Fortes, Maia e Cerqueira pediriam votos para o PSDB de Serra. Gabeira e Aspásia estariam ao lado da candidata verde. No segundo turno, caso Marina não avance, entrariam todos na campanha nacional do PSDB. (II)