Ribeirão Preto (SP) ;; Eles estavam na mesma cidade, no mesmo evento, mas não se encontraram. Os pré-candidatos ao Palácio do Planalto Dilma Rousseff, do PT, e José Serra, do PSDB, adotaram ontem o mesmo roteiro no interior paulista. E seguiram na maior feira do agronegócio do país, a Agrishow, a tradicional cartilha da campanha eleitoral: distribuíram beijos, abraços, tiraram fotos, subiram em tratores expostos, conversaram com lideranças da região. Também despejaram palavras de apoio ao setor e fizeram promessas.
Dilma e Serra enfrentaram também uma prova de fogo no setor (1). A decisão do governo de aumentar a taxa de juros repercutiu negativamente entre os produtores, que apresentaram uma pauta de reivindicações aos dois. Dilma saiu em defesa do governo. Segundo ela, é uma demonstração de responsabilidade. E atacou o anterior. ;Ninguém vai fazer malabarismo para ganhar como já foi feito;, disse, numa referência indireta a 1998, ano em que o governo Fernando Henrique Cardoso segurou o câmbio perto das eleições. Serra, que num primeiro momento se negou a falar sobre juros, disse depois que quer entender por que ;entra governo, sai governo e o Brasil continua com a maior taxa de juros do mundo. Sempre;.
Os dois aproveitaram ainda para marcar posição sobre o tema que é uma ;pedra no sapato; dos grandes agricultores: o Movimento dos Sem Terra. Relatório da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), comandado pela senadora Kátia Abreu (DEM), que chegou a ser cotada para vice de Serra, aponta prejuízo de R$ 9 bilhões com as invasões do Abril Vermelho. ;Não vamos compactuar com qualquer atividade ilegal. A ilegalidade não pode ser premiada;, disse Dilma, repetindo a tese de que ;movimento é movimento. Governo é governo;. Serra definiu o MST como um movimento político. ;Não se pode alimentar essa máquina política com dinheiro público.;
Cliques e gritos
A ex-ministra da Casa Civil chegou por volta das 10h em Ribeirão Preto. Deu entrevista para uma rede local de televisão e seguiu para a feira, que tem 360 mil metros quadrados e 730 expositores. Num sol de 31;C, a pré-candidata, que vestia um terninho bege, chegou bastante animada. ;A gente adora foto;, disse, depois de uma série de cliques com participantes do evento. Ao ver um trator, Dilma logo correu para tirar foto. ;Que graça, gente!”. A petista também gastou o ;uai; na passagem pelo interior paulista. Ao tentar entender o funcionamento de uma máquina agrícola para moer mandioca, o senador Mercadante (PT-SP), pré-candidato ao governo do estado, gritou: ;É uma mulher do campo;. O tempo todo Dilma fez propaganda do programa Mais Alimentos, que libera crédito para a agricultura familiar. A ex-ministra também estava acompanhada de Marta Suplicy, pré-candidata ao Senado, e Antônio Palocci.
Ao lado do pré-candidato ao governo, Geraldo Alckmin, Serra chegou com uma hora de atraso, às 16h. Caminhou pela feira, mexeu com alguns palmeirenses, cantou Sereia de Copacabana, de Jorge Goulart, conversou com prefeitos e participantes da feira. Logo que adentrou ao local, o representante comercial Leão, que trabalhou como cabo eleitoral na campanha de Gilberto Kassab à prefeitura de São Paulo, começou a puxar um coro ;Serra presidente; e não parou. Durante mais de uma hora, ele acompanhou a comitiva de Serra e ia narrando passo a passo. ;Pode chegar mulherada. Serra também dá beijo;, brincou. A voz de Leão chamou a atenção do tucano, que perguntou de onde ele tirava tanta energia. No fim do dia, Serra também deu entrevista para a mesma rede de televisão. Hoje, ele passa o dia em São Paulo.
1 - Difícil ignorar
Não é à toa que Serra e Dilma marcaram presença na Feira Internacional de Tecnologia Agrícola, em Ribeirão Preto (SP). Segundo informações do Ministério da Agricultura, o setor do agronegócio responde por um em cada três reais gerados no país. Concentra mais de 35% das exportações nacionais e mais de 35% dos empregos. O Brasil é um dos líderes mundiais na produção e exportação de café, açúcar, álcool e sucos de frutas. Além disso, figura no topo do ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e calçados de couro.