O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mandou um duro recado ontem ao principal pré-candidato de oposição à Presidência da República, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB-SP). Sem citá-lo nominalmente, cobrou dos postulantes a ocupar o Palácio do Planalto a partir de janeiro compromisso com o combate à inflação e responsabilidade nas áreas cambial, monetária e fiscal. Meirelles reconheceu que não conversou com os demais pré-candidatos sobre o assunto, mas garantiu que a petista Dilma Rousseff vai manter a política econômica do governo Lula. Dessa forma, ficou claro para os cerca de 300 investidores estrangeiros que o ouviam atentamente num seminário em Nova York, que a mensagem era mesmo para o tucano.
;Para continuar a crescer, evidentemente é importante que o próximo governo mantenha rigorosamente a inflação dentro da meta. Se você tentar manipular o câmbio, tentar reduzir artificialmente, a inflação vai subir e você terá uma surpresa inflacionária;, afirmou no encontro empresarial organizado pela Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos. Ao se posicionar dessa maneira, Meirelles deu uma resposta indireta às primeiras manifestações de José Serra sobre sua eventual política econômica. O tucano prometeu intervir mais fortemente no mercado para evitar uma excessiva valorização do real frente ao dólar, que retira competitividade dos produtos industrializados brasileiros e prejudica as exportações.
Antes dele, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), já havia provocado polêmica ao dizer que, uma vez no poder, Serra mexeria na política econômica, principalmente no câmbio e nas regras para manter as contas públicas sob controle. As declarações de Meirelles vieram no dia em que o BC anunciou o aumento das previsões dos analistas de mercado para a inflação neste ano. Os cerca de 100 consultores ouvidos semanalmente elevaram a projeção de 5,32% para 5,41%. Foi a 14; alta consecutiva, com a estimativa se distanciando cada vez mais do centro da meta, que é de 4,5%, e se aproximando do teto de 6,5%. De olho no capital eleitoral que a estabilidade da moeda dá à candidata oficial, o BC vai aumentar os juros, atualmente em 8,75% ao ano.
Selic
A convicção generalizada de que os juros vão subir até um ponto percentual já nesta semana se consolidou após Meirelles ter dito, no fim de semana em Washington, que o BC ;vai adotar medidas fortes para garantir que a inflação atinja a meta num horizonte relevante;. No relatório divulgado ontem, a estimativa dos analistas sobre a taxa básica (Selic) no fim do ano aumentou de 11,50% para 11,75%. Há quatro semanas, ela era de 11,25%. Como é de costume, o presidente da autoridade monetária evitou especular sobre a decisão a ser tomada amanhã, mas afirmou que ;flutuações de curto prazo; nas expectativas do mercado quanto à inflação são normais. Ele ressaltou, entretanto, que os investidores confiam na disposição do governo de manter a alta de preços sob controle.
Meirelles também cobrou responsabilidade do próximo presidente da República na condução da política fiscal, com a manutenção do orçamento equilibrado. ;É importante que a trajetória da dívida pública seja continuada.; Hoje, o setor público brasileiro (União, estados, municípios e estatais) deve R$ 1,34 trilhão, o equivalente a 42,1% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas geradas pelo país.
Um novo ministério
O pré-candidato à Presidência do PSDB, José Serra, disse ontem no programa Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes, que, se eleito, vai criar o Ministério da Segurança Pública. Segundo ele, o Ministério da Justiça não é suficiente para combater a violência no país. O tucano disse ainda que é preciso endurecer as leis criminais e pediu a revisão da progressão de pena. ;Sou a favor dos direitos humanos, mas bandido tem que ser combatido e enfrentado com dureza;, disse, em entrevista ao apresentador José Luis Datena. Serra prometeu ainda ampliar os programas sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como o Bolsa Família. O pré-candidato disse gostar de Dilma Rousseff e encerrou a entrevista cantando Chega de saudade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. (Ulisses Campbell)
<--
--> <--
--> <-- --> <--
--> <-- -->