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O último suspiro de Ciro

Com a candidatura presidencial levada ao despenhadeiro pelo próprio partido, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) decidiu não esperar o anúncio oficial de que estava fora da disputa pela Presidência. Em um espaço inferior a 24 horas, o pré-candidato explodiu, recuou e, como ele próprio disse, "continua esperneando". Com frases de efeito, Ciro alvejou o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, a pré-candidata petista, Dilma Rousseff, e os dois comandantes do PSB, o presidente, Eduardo Campos, e o vice, Roberto Amaral, em entrevista ao portal IG. Mais tarde, recuou das críticas e diminuiu o tom, durante entrevista ao SBT.

Os principais atingidos pela verve do ainda pré-candidato à Presidência preferiram não comentar os ataques do político cearense. Eles estiveram reunidos para tratar das alianças entre PSB e PT no estados, já com o deputado federal virtualmente fora do baralho presidencial. Os socialistas cobram que o governo libere legendas menores para candidatos dos socialistas aos governos estaduais. As declarações de Ciro só o fizeram ficar mais distante do projeto de concorrer à Presidência. Em conversas reservadas, lideranças do PSB admitem que esperavam dele um conformismo maior com a realidade: o partido está mais disposto a construir seus projetos estaduais do que a enfrentar o presidente Lula e o PT.

Depois de ser informado por Campos e Amaral de que a decisão sobre uma possível candidatura partiria dos diretórios regionais do PSB, o deputado federal entendeu que a senha era para desistir de vez da terceira candidatura ao Planalto. Disparou contra todos os obstáculos que se impuseram entre ele e as eleições presidenciais. Primeiro, atacou o presidente da República: "Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o todo poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ;Presidente, tenha calma;".

Na mesma toada, desdenhou das chances de Dilma em outubro. "Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa, mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz", opinou. Sobre o próprio partido, também carregou a mão nas críticas. "Tiraram de mim o direito de ser candidato. Mas quer saber? Relaxei. Eles não querem que eu seja candidato? Querem apoiar a Dilma? Que apoiem a Dilma. Estou como a Tereza Batista cansada de guerra", declarou. O comentário mais ácido foi disparado contra Eduardo Campos e Roberto Amaral, comandantes da legenda. "(Eles) não estão no nível que a história impõe a eles", classificou.

Rojões


Procurando diminuir os efeitos da bomba detonada por Ciro Gomes, Eduardo Campos disse que tinha opiniões divergentes do companheiro de legenda. Diante do fogo amigo, deu recado tímido, de que o deputado teria de se curvar à decisão do partido. ;A decisão que ocorre na próxima terça-feira vai ser compactuada por Ciro e por todos os companheiros, pois isso foi compactuado com ele;, disse. Aliado de primeira hora do pré-candidato, o deputado federal Márcio França (PSB-SP) contemporizou: "O Ciro é o Ciro e ninguém vai domá-lo. É igual à mulher da gente, vem com defeitos e qualidades. Tem potencial para explodir o mundo. Quando ele só solta meia dúzia de rojões, é para se comemorar".

Oficialmente, o PSB ainda não cortou pelo talo a pré-candidatura de Ciro à Presidência. Para oficializar a retirada, cobra do governo a liberação de partidos menores, como PCdoB e PR, para as alianças estaduais. Em três dias, os diretórios estaduais entregarão posicionamento sobre os rumos do partido em outubro. Cerca de 20 diretórios devem declarar apoio a Dilma Rousseff. Hoje, a legenda tem quatro governadores (Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí). Para outubro, estuda ter candidaturas para governador em 11 estados, e para Senador em oito. A aliança com os petistas é vista como primordial para engordar os quadros do partido.