Irritado com o impasse no Congresso a respeito do percentual de reajuste das aposentadorias, o Palácio do Planalto manteve a defesa do índice de 6,14% para aqueles que ganham acima de um salário mínimo. Recentemente, o governo chegou a avaliar o aumento do reajuste em 7%, mas o valor não teve o apoio unânime de deputados e senadores, que apresentaram um percentual ainda maior: 7,7%.
;Ficou claro que não existe mais consenso na Câmara em torno de um aumento de 7%. O governo mantém os 6,14% que estão previstos na medida provisória. O Brasil é o único país do mundo que concedeu aumento real para os aposentados neste ano, depois de uma crise;, afirmou ontem o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros da área econômica. De acordo com o governo, o reajuste de 6,14% terá um impacto de R$ 6,7 bilhões nos cofres da União. Com o aumento para 7%, haveria um adicional de R$ 1,1 bilhão. O último valor proposto, de 7,7%, ampliaria a despesa em mais R$ 600 milhões.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), interlocutor da proposta de maior reajuste, abandonou os governistas rebeldes da casa e voltou a assumir o discurso do Planalto. ;Nós estávamos tentando construir um entendimento. Para haver isso no Senado, teria que ser (um reajuste) de 7,7%;, justificou, após o mal-estar com o Executivo. ;É um risco político do processo;, reconheceu, em tom de mea-culpa.
Processos
Em busca de consenso no Congresso, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), chegou a propor um reajuste escalonado: aposentados que ganham acima de um a três salários mínimos teriam o reajuste de 7,7%; os demais continuariam com os 6,14% concedidos pelo governo. A proposta também não recebeu a adesão de todos os parlamentares. ;Aqueles que queriam um aumento dos 6,14% perderam a oportunidade de viabilizar isso;, lamentou Vaccarezza. As próprias assessorias jurídicas dos ministérios da Fazenda e da Previdência, entretanto, não apoiaram o reajuste escalonado. A ideia poderia levar a uma série de processos daqueles que não estão incluídos na faixa do maior benefício.
Apesar da defesa do Executivo pelo reajuste de 6,14%, em vigor desde janeiro, o ministro de Relações Institucionais negou que um possível veto do presidente a índices maiores tenha sido discutido ontem. Padilha ressaltou, entretanto, que em 2006, quando Lula era candidato à reeleição, uma proposta do Congresso que previa aumento superior ao oferecido pelo governo foi vetada.
Na próxima terça-feira, uma nova rodada de discussão sobre o tema será feita na Câmara. Líderes das duas Casas farão uma reunião com os aposentados em busca de um acordo.