A defesa da reeleição pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicada ontem com exclusividade em entrevista ao Correio, reacendeu a discussão sobre o tempo ideal do mandato presidencial e o questionamento sobre a guinada no pensamento do petista, um dois maiores críticos da emenda que permitiu mais quatro anos a Fernando Henrique Cardoso à frente da Presidência. Aliados e integrantes da oposição interpretaram a declaração de Lula como uma resposta à sugestão do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, que, ao lado de Aécio Neves (PSDB-MG), pregou reforma eleitoral para criar o mandato único de cinco anos.
Na polarização dos argumentos, Lula reavalia sua opinião sobre o tema e com olhar administrativo afirma que em quatro anos não é possível fazer ;obra estruturante;. Os adversários, por sua vez, fazem um mea-culpa político e assumem que a janela aberta pela reeleição prejudicou a alternância de poder nos municípios e estados. ;Sou a favor de um mandato de cinco anos. Não é a questão federal, é a municipal e estadual. A reeleição está formando oligarquias nos municípios e estados;, acredita o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
Apesar de a oposição ter afinado o discurso do risco da ;oligarquização do poder;, entre os adversários há quem defenda parte do argumento de Lula para manter a reeleição. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) pondera que, de acordo com o cenário administrativo do país e a ambição das reformas a serem realizadas, quatro anos pode ser pouco tempo. ;Se você pega um país quebrado, com hiperinflação, talvez faça algum sentido (a declaração do presidente);, afirma.
A guinada no discurso do presidente, avalia o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em parte pode ser explicada porque o PT também se favoreceu com a emenda da reeleição. O partido fez dura oposição ao PSDB de Fernando Henrique Cardoso quando o então presidente conseguiu convencer o Congresso a aprovar, em 1997, a emenda da reeleição. Mas a partir de 1998, prefeitos e governadores do PT foram beneficiados pela reeleição. ;Uma vez aprovado o direito de reeleição, mesmo com a nossa posição contrária, o PT, tal como os demais, passou a se utilizar;.
Alternância
Aliado de Aécio Neves, o secretário de Governo de Antonio Anastasia em Minas Gerais , Danilo de Castro, afirma que cinco anos de mandato sem reeleição é o melhor cenário para os tucanos. ;A alternância de poder é muito saudável, e ter um nome como o Aécio de fora da Presidência, apesar de termos um grande candidato como o José Serra, é uma coisa que os outros não têm;, comenta.
O secretário nacional do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), teme que declaração de Lula crie um debate polarizado com a oposição. No partido, afirma o secretário nacional, não há consenso sobre o tema e o argumento de Lula seria ;opinião pessoal;. ;O PT não tem uma posição partidária sobre isso. O presidente está expressando a opinião dele. O PSDB está buscando acomodação de impasses internos. Não tem porque polarizar numa situação dessas.;
Já o senador Pedro Simon (PMDB-RS) discorda do presidente quando o argumento é mais tempo para projetos ambiciosos e cita o engavetamento da reforma política e tributária para desmontar a alegação de Lula em defesa da reeleição. ;Lula era radicalmente contra a reeleição e defendia a reforma tributária. Não fez coisa nenhuma nos oito anos, boicotou toda reforma política, toda reforma tributária e agora defende a reeleição;, provoca.