Salvador ; Com números sobre segurança pública, saúde e desemprego na ponta da língua, José Serra, pré-candidato à Presidência da República, defendeu as áreas estratégicas da sua proposta de governo durante a passagem pela capital baiana. Mas engana-se quem pensa que o ex-governador de São Paulo, conhecido pela seriedade, tenha se atado aos números. Bem-humorado, logo que chegou ao hospital da Irmã Dulce, pegou um microfone e cantou: ;Atire a primeira pedra, Iaiá. Aquele que não sofreu de amor;, acompanhado de um grupo de pacientes. Não desafinou. ;Conheço todas do Ataulfo Alves.; Pediram mais. Dessa vez, era Help, dos Beatles. ;Essa eu não sei a letra;, disse o ex-governador de São Paulo. Ainda assim, arriscou uns versos. No hospital, visitou a pediatria, o centro de recuperação para portadores de deficiência e o ambulatório.
Para os baianos, vale a máxima de que ganha votos quem reverencia irmã Dulce. ;Não dá sorte. Ela é a sorte;, ressaltou o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA). Em 2002, Serra também passou pelas obras socais da irmã. A freira era muito ligada a Antônio Carlos Magalhães, que chegou a proibir a passagem dos trios elétricos na porta do hospital enquanto a irmã estava doente. Ela morreu em 1992 e sua obra filantrópica é a maior do país na área de saúde.
Implantes
Serra conversou com os pacientes, abraçou funcionárias e distribuiu sorrisos. Também fez questão de ressaltar ; a todo momento ; seu desempenho como ministro da Saúde na gestão de Fernando Henrique Cardoso, quando começou a realização de implante oclear na rede pública de saúde. ;Agora que sei que foi ele, vou votar nele;, disse Tatiane Silvestre, 26 anos, mãe de Enrico, 3 anos. Já ao encontrar uma grávida, com outros dois filhos pequenos ao lado, Serra disse brincando: ;Agora vai encerrar, né?;. Andrea Alves, de 28 anos, não conhecia o ex-governador de São Paulo, que já foi candidato à Presidência, mas concordou. A amiga Nivalda Sena, de 30, o reconheceu. ;É o Serra. Foi ministro da Saúde. Ele é muito mais bonito pessoalmente;, disse. ;Me lembrou aquele carequinha que morreu num acidente de helicóptero e nunca encontraram o corpo;, completou, em referência a Ulysses Guimarães. Vaidoso, os amigos disseram que Serra não iria gostar da comparação. Com 68 anos, o tucano comentou ontem ; orgulhoso ; que disseram que ele parecia ser bem mais novo.
Com uma calça clara e camisa azul, José Serra enfrentou um temporal na cidade. Mas disse estar acostumado com a combinação de chuva e trânsito. Do hospital seguiu para o Mercado Modelo, também na Cidade Baixa. Tirou fotos com as baianas, ganhou presentes típicos e até uma camisa do Palmeiras, o time do coração. ;Vai dar sorte;, garantiu o tucano. Durante a passagem pela capital, ele também colocou duas fitinhas do Senhor do Bonfim no braço. ;Esse modelo vai se repetir bastante durante a campanha;, admite o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), um dos articuladores da campanha no Nordeste. ;Vamos fazer algo mais ágil, que mostre contato com a sociedade.;
REPRESENTAÇÃO CONTRA INSTITUTO
O PSDB entrou ontem com uma representação contra o Instituto Sensus, que divulgou na terça-feira pesquisa de intenção de votos para presidente da República, no Tribunal Superior Eleitoral. O levantamento, a pedido do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo (Sintrapav), mostrou que José Serra e Dilma Rousseff estão tecnicamente empatados, com 32,7% para o tucano e 32,4% para a petista. Na representação, o PSDB alega que o instituto descumpriu o prazo estipulado por lei para divulgação do resultado da pesquisa. A legislação determina que o resultado seja divulgado cinco dias depois da inscrição da pesquisa no TSE. O Sensus inscreveu o levantamento em 5 de abril, mas quatro dias depois alterou os dados. Ou seja, com isso, na avaliação do PSDB, a pesquisa só poderia ter sido divulgada ontem, dia 14.