Nem a vice de Dilma nem o sucessor no Banco Central. Nas conversas palacianas que manteve nos últimos dois dias para definir o seu futuro político, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não obteve do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o que mais desejava e ainda viu crescer o risco de não emplacar o diretor de Normas, Alexandre Tombini, como futuro presidente da instituição. Nas últimas 24 horas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu a nomeação do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, para a presidência do BC. Assim, sem a garantia de que Lula moveria montanhas para fazer dele, Meirelles, candidato a vice na chapa da petista à sucessão presidencial, e sem Tombini, Meirelles arremeteu a sua saída e vai aproveitar as próximas horas para tentar demover Lula de nomear Barbosa.
;Essa é uma decisão que envolve esta instituiçâo. O papel que esta instituição tem para o Brasil. Estamos conversando e avaliando. Meu tempo só termina à meia-noite (do dia 2, sexta-feira santa);, afirmou Meirelles ao fim da solenidade de 45 anos do BC. Era a senha de que algo estava errado internamente (leia detalhes na página 3).
A questão política, do PMDB, Meirelles tentou resolver na noite de terça-feira, quando foi à casa do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), pré-candidato a vice na chapa de Dilma. Lá, calculou os sentimentos dos peemedebistas, reunido com os líderes no Senado, Renan Calheiros (AL), na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o do governo, senador Romero Jucá (RR).
A maioria dos presentes pediu que ele deixasse o governo para concorrer a um mandato de senador. São poucos aqueles que desejam Meirelles no BC para se ver livre do fantasma que tenta tirar Temer da vice de Dilma. O argumento é o de que, se eleito, será a referência do PMDB em economia, com status para ocupar qualquer cargo. Os peemedebistas avaliam que a relação de Meirelles com Dilma não é tão próxima. Portanto, hoje não há garantia de permanência no cargo, em caso de vitória da ex-ministra.
;Eu defendo que ele prossiga a sua trajetória política como candidato. Seria a nossa referência no Senado para as questões econômicas e se credenciaria para este ou aquele governo. Ele acumulou uma experiência que o partido não pode prescindir;, comentou o deputado Rocha Loures (PMDB-PR).
O presidente do Banco Central estava quase convencido, quando o vice-presidente da Caixa Econômica Wellington Moreira Franco, um dos maiores aliados de Temer, levantou a lebre: ;E se a política econômica mudar? O presidente Lula tem razão quando diz que sua presença dá segurança e ajuda o governo;. Pronto: lá estava Meirelles disposto a ficar, fazendo jus à ;fama de tucano;(1).
Foi essa dúvida e o trabalho da ministra Dilma por Barbosa que levaram Meirelles ao gabinete do presidente Lula ontem à tarde. O presidente não o recebeu porque estava reunido com o senador Osmar Dias (PDT-PR), tentando atraí-lo para a montagem do palanque de Dilma no estado. O presidente do BC, então, voltou para a sede do Banco, onde foi homenageado pelo diretor de Liquidação, Gustavo Matos do Vale.
Ali, Meirelles falou por 15 minutos. Tomou cuidado em usar os verbos no passado. Cheio de citações, falou pausadamente ao mencionar a frase de um consultor internacional: ;Um líder não é aquele que diz o que as pessoas querem ouvir e sim o que elas devem ouvir;, disse, lembrando da maior crise que enfrentou no cargo: ;Durante muitos anos ouvimos perguntas sobre como seria o comportamento do Brasil e do BC durante a primeira crise. O Brasil foi o país que viveu a crise mais curta. Essa foi a prova de fogo e o papel do BC foi reconhecido internacionalmente;. O único ato falho foi quando se referiu ao discurso do diretor que o homenageou: O diretor Gustavo fez aqui o que eu poderia fazer talvez em um relatório de gestão, em um ato de transmissão de cargo futuro, o dia em que eu morrer;, mas o fato concreto é que o diretor Gustavo me poupou bastante trabalho de pesquisa e de estudo. Foi um relato extenso, detalhado e completo de tudo o que foi conseguido pelo BC nos últimos anos;, disse, provocando risos na plateia. Até o fechamento desta edição, as apostas continuavam tendentes à saída.
1 - Em cima do muro
No governo Collor, os tucanos ficaram com a pecha de indecisos por conta das intermináveis reuniões para discutir se iriam integrar a equipe do então presidente da República. Foram vários dias de idas-e-vindas, quando, por fim, graças ao senador Mário Covas (PSDB-SP), já falecido, recusaram o convite. Collor terminou afastado do cargo por um impeachment e os tucanos conquistaram a Presidência da República na eleição de 94, com Fernando Henrique Cardoso.