O governo tentou, mais uma vez, impedir o depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, na CPI das ONGs, no Senado Federal. Em reunião da comissão na manhã de ontem, o líder do governo na casa, Romero Jucá (PMDB-RR), ameaçou fazer uma manobra para anular a ata da sessão que aprovou a convocação do petista. O argumento é de que Vaccari não tem nenhuma relação com o tema central da comissão parlamentar de inquérito. Na semana passada, um cochilo da base aliada permitiu a ação dos parlamentares da oposição, dispostos a jogar luz sobre denúncias de desvio de cerca de R$ 100 milhões da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) quando presidida por Vaccari.
A estratégia poderia surtir efeito devido à maioria governista na comissão temporária, mas governo e oposição decidiram chegar a um acordo antes de retomar o tema na CPI. Nos bastidores, a base aliada ventilou a possibilidade de também convocar envolvidos em escândalos recentes da oposição, como o chamado mensalão do DEM, no Distrito Federal, e as denúncias envolvendo a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius.
Diante do embate, o presidente da CPI, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), abriu e encerrou rapidamente a reunião da tarde, e adiou a discussão sobre o tema. A previsão agora é de que o assunto entre em pauta novamente somente após o feriado da semana santa. ;Vamos sentar para ver uma forma de se chegar a um acordo. Ficamos de conversar;, afirmou Jucá. O líder do governo pediu uma reunião de líderes para discutir a convocação de Vaccari antes de qualquer novo movimento na CPI. ;Vai haver reunião, mas não há sentido em negociar isso;, reclamou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
A princípio, o depoimento do tesoureiro do PT deveria ter ocorrido ontem, mas o petista pediu o adiamento da convocação com o argumento de que seu advogado, que o acompanharia na sessão, estar no exterior. Também foi adiado o depoimento do promotor de Justiça de São Paulo José Carlos Blat, responsável pela investigação do caso. O magistrado afirmou que prefere falar com os senadores após apresentar as denúncias ao Ministério Público.
Ainda ontem, João Vaccari Neto foi convidado a comparecer a outra comissão do senado. Requerimento do senador Álvaro Dias, aprovado pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), pede audiência pública com o petista para debater as supostas irregularidades na Bancoop. A audiência foi agendada para a próxima semana, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), que já havia feito o mesmo pedido. Mas, por ser um convite, Vaccari pode se negar a comparecer ao Senado.
; Comissão, lugar seguro
O governo agora defende que o tesoureiro do PT seja ouvido apenas nessa comissão. ;Se ele tem que ser ouvido, o lugar é lá, na comissão de fiscalização;, disse o senador Romero Jucá. O líder do governo afirma que a insistência da oposição em levar João Vaccari Neto ao Congresso tem objetivo eleitoreiro. A oposição, entretanto, não pretende abrir mão da presença de Vaccari na CPI das ONGs, uma vez que, neste caso, o tesoureiro é obrigado à comparecer à comissão.
O senador Álvaro Dias afirma ainda que o universo de investigação da CPI das ONGs também contempla as denúncias contra a cooperativa dos bancários de São Paulo. Isso porque, segundo ele, a entidade tem relação com o Projeto Travessia, programa que atua com crianças nas ruas da capital paulista. O projeto foi criado pelo deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) em 1995, um ano antes da fundação da Bancoop. ;O mais importante é (o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto) falar na CPI. Se falar lá, não precisa falar na comissão;, afirmou Dias, que apresentou o requerimento ainda na semana passada.
A base aliada, entretanto, continua disposta a impedir a convocação de Vaccari. Em ano eleitoral, o objetivo é evitar qualquer desgaste à imagem da pré-candidata do PT às eleições presidenciais, a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. No fim do mês passado, ação do governo conseguiu evitar a depoimento da petista na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Na ocasião, a presença da ministra foi solicitada para debater o Plano Nacional de Direitos Humanos, proposta do governo federal que gerou embate entre o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o titular da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi. Maioria na CCJ, o governo conseguiu trocar a convocação de Dilma pela de Vanucchi.