O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), lançará candidatura em abril sustentado por pesquisas eleitorais que o colocam em vantagem na disputa presidencial, mas ameaçado pelo potencial de crescimento da já declarada candidata do PT ao Palácio do Planalto, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e executada pelo Instituto Ibope, divulgada ontem, mostra que o tucano conta com a preferência de 35% do eleitorado, contra o índice de 30% alcançado pela ministra. O levantamento deixa claro que Serra tem pelo menos três sérios motivos de preocupação. Além de crescer nas intenções de voto, Dilma viu a rejeição a seu nome diminuir. Um número grande de pesquisados também prefere o candidato com as bênçãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por último, a petista aparece, em três levantamentos diferentes, à frente do governador quando o eleitor diz espontaneamente em quem votaria.
Em comparação com a última pesquisa CNI/Ibope, divulgada em dezembro de 2009, Dilma cresceu 13 pontos percentuais, passando de 17% para os 30% atuais. O levantamento revela outros dados que traçam um cenário favorável ao crescimento da petista. Aos pesquisadores da CNI/Ibope, 53% dos eleitores disseram ;preferir; votar em um candidato indicado pelo presidente Lula, padrinho da candidatura de Dilma. A rejeição ao nome da ministra, que era 41% em dezembro, caiu para 27% este mês. E a pesquisa vai além: aponta que, em contrapartida, 42% dos eleitores ainda não sabem que a ministra da Casa Civil é a escolhida do presidente. ;Isso dá a ela um potencial de crescimento enorme;, avaliou o cientista político Paulo Kramer.
Outro dado que favorece a ministra é o da pesquisa espontânea, aquela em que o pesquisador não indica nomes para o eleitor, deixando-o livre para elencar seus favoritos. O presidente Lula, mesmo sem poder ser candidato, aparece em primeiro lugar nesse levantamento, com 20% das intenções de voto. Dilma Rousseff vem em seguida, com 14%, e Serra, em terceiro, com 10%.
Sem prejuízo
O tucanato preferiu comemorar a permanência de Serra à frente da ministra escolhida por Lula. O presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), manteve o tom otimista. ;José Serra não fez outra coisa senão manter suas intenções de voto. Em setembro, ele tinha 35% das intenções de voto. Em novembro, subiu para 38%. Agora, em março, 35%;, analisou o senador. A avaliação é a de que Serra, pelo menos, pode comemorar o fato de os índices não terem sido afetados, por exemplo, pelas enchentes que assolaram o estado de São Paulo no início do ano. O PSDB também ressalta que Serra ainda não oficializou a candidatura, enquanto Dilma já foi apresentada formalmente ao eleitorado.
A pesquisa também aponta que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) perdeu força na corrida presidencial. Em setembro do ano passado, Ciro tinha 17% da preferência do eleitorado. O índice caiu para 13% em dezembro de 2009 e chegou agora, em março, a 11%.
; Análise da notícia
Alívio no Planalto
Leonardo Cavalcanti
Os estrategistas da candidatura de Dilma Rousseff respiram aliviados com a manutenção de José Serra na liderança da corrida eleitoral ; por mais contraditório que isso possa parecer no primeiro momento. Explica-se: hoje, todos os habitantes das salas próximas à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) acreditam que a petista ultrapassará o tucano cedo ou tarde e, por isso, preferem Dilma ainda em segundo para se livrar, pelo menos por ora, de uma mudança de rumos na campanha do PSDB, como a própria alteração da chapa.
O desempenho de Dilma nas últimas pesquisas, confirmado agora na CNI/Ibope, mostra que a avaliação do Planalto é mais do que razoável, principalmente pelo fato de a rejeição da petista cair substancialmente nas últimas pesquisas. Mas as certezas de Lula em relação à vitória da candidata podem virar fumaça se a linha de intenção de votos de Dilma não cruzar a de Serra até o próximo mês de julho ; será o alívio transformado em desespero.