Em sua tarefa de se viabilizar candidato ao governo da Bahia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), colocou a pasta à disposição do estado natal e de colegas prefeitos. Em 2009, foram despejados em cidades baianas 67% do total de recursos destinados ao auxílio de prefeituras de todo o país. Dos pouco mais de R$ 231 milhões para 78 cidades de 12 estados, R$ 158 milhões acabaram aplicados em 38 prefeituras baianas. Os dados foram coletados pelo Correio no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo federal.
Do total de municípios de seu estado natal, 21 são governados pelo PMDB. Isso significa que mais da metade das cidades que receberam dinheiro para o Programa de Aceleração do Crescimento, transposição do Rio São Francisco, emendas ou para a Defesa Civil são administradas por correligionários do ministro. A oposição recebeu aportes em cinco cidades ;quatro comandadas pelo PSDB e uma pelo DEM.
As maiores beneficiadas são a capital Salvador, governada por João Henrique (PMDB), que recebeu R$ 71,7 milhões, e a pequenina Coronel João Sá, na divisa com Sergipe. Com 18,1 mil habitantes, o município administrado por Carlinhos Sobral (PMDB) teve R$ 46,3 milhões em investimentos da pasta. Cidades do Rio Grande do Sul receberam R$ 27,4 milhões, num distante segundo lugar: 11,8% do total.
É público que Geddel está em rota de colisão com o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). A troca de farpas é só um ingrediente no cabo de guerra que se tornou o impasse político entre os dois. Diferentemente das prefeituras, o estado recebeu R$ 3,1 milhões, o segundo pior do ano passado. Ganha apenas de Tocantins. O maior valor, de R$ 158,9 milhões, chegou aos cofres de Santa Catarina, uma promessa de Geddel para o estado fortemente abalado pelas enchentes no ano passado.
Defesa
O ministério negou direcionamento privilegiado de recursos para a Bahia. A assessoria alega que a maior parte dos investimentos vão para a Defesa Civil. Só a Bahia recebeu R$ 49 milhões para ações emergenciais comandadas pela Secretaria de Defesa Civil. Segundo a secretária Ivone Valente, o Piauí, com R$ 120 milhões, e o Rio Grande do Norte, com cerca de R$ 80 milhões, foram os dois estados que mais receberam aportes de seu órgão. ;Nós trabalhamos em função da região afetada pelo desastre. O recurso é para atender regiões necessitadas. Não posso atender um estado e não outro;, disse Valente.
Os recursos de emendas, do PAC e da transposição do São Francisco, contudo, são mais direcionáveis. E os números indicam que houve aporte de recursos para prefeituras de correligionários do ministro. Os administradores municipais são costumeiramente considerados excelentes cabos eleitorais. E Geddel enfrentará uma eleição árdua contra o governador petista e contra o DEM, que lançará o ex-governador Paulo Souto.
O ministro da Integração Nacional forçou sua viabilização depois de romper com Wagner. Ele não admite que o PT não tenha apoiado a reeleição do prefeito de Salvador, João Henrique, e lançado candidatura própria. Agora, quer fazer seu antigo aliado provar do mesmo veneno. Ao dividir a base aliada, criou um problema nacional. Promete apoiar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), na corrida à Presidência desde que ela não privilegie nenhum dos candidatos. A cúpula do PMDB sugeriu que a aliança seja colocada no papel para ninguém trair ninguém. O que se busca é um acordo de procedimentos para evitar uma disputa fratricida que acabe por beneficiar a oposição comandada pelo DEM no estado, pavimentando a volta do grupo carlista ao poder.
O número
R$ 158 milhões - Quantidade que ficou em municípios baianos dos R$ 231 milhões separados para 78 cidades de 12 estados
O número
R$ 3,1 milhões - Quantia recebida pelo estado da Bahia em 2009, a segunda menor. O atual governador, do PT, é rival de Geddel
E eu com isso
O Ministério da Integração Nacional é um importante órgão executor de obras em áreas carentes com políticas para irrigação agrícola, drenagem urbana, desenvolvimento do semiárido e infraestrutura hídrica, como água tratada. O potencial privilégio dado a algum município ou estado serve de indicativo de que o dinheiro público não estaria chegando da forma mais adequada a outros entes federativos.