Ainda que relute em assumir publicamente, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já bateu o martelo: vai mesmo deixar o cargo de olho na vaga de vice na chapa da candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff. Pelo que está programado, Meirelles entrará em licença no dia 22 deste mês e anunciará o seu desligamento no dia 31, dois dias antes do prazo final dado pela Justiça Eleitoral. Com ele, deixará o BC o diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, apontado como o mais conservador dos integrantes do primeiro escalão. Há um acordo fechado entre eles nesse sentido. O sucessor de Meirelles será o diretor de Normas, Alexandre Tombini.
Meirelles aproveitará até junho, quando, efetivamente, a campanha começará, para trabalhar nos bastidores e garantir sua inclusão na chapa de Dilma. O presidente do BC acredita que poderá alcançar seu objetivo com o apoio do presidente Lula, que vem defendendo seu nome para a vaga de vice. O PT considera a presença de Meirelles uma garantia aos investidores de que a política econômica ; baseada no tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superavit fiscal ; será mantida se a petista vencer nas urnas. Na opinião de muitos, Meirelles é, para Dilma, o que o empresário José Alencar representou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e até mais: seria a letra viva da carta aos brasileiros que o então candidato Lula apresentou aos eleitores com o compromisso de não mudar os pilares da política econômica.
Meirelles, no entanto, sabe que não será tarefa fácil, pois a cúpula do PMDB ; formada pelo presidente do Senado, José Sarney (AP), e pelos líderes partidários no Congresso, senador Renan Calheiros (AL) e deputado Henrique Eduardo Alves (RN) ; está fechada com o presidente do partido e da Câmara, Michel Temer (SP). Caso não consiga quebrar a barreira imposta pela cúpula do PMDB, restará a Meirelles disputar uma vaga ao Senado pelo PMDB, com a garantia de assumir o Ministério da Fazenda de Dilma, em caso de vitória.
Batalha
Inicialmente, quando sinalizou que deixaria o BC para voltar à vida pública, abandonada em 2002, ao abrir mão da vaga de deputado federal pelo PSDB, o desejo maior de Meirelles era disputar o governo de Goiás. Mas ele foi abandonando essa meta ao ouvir de Lula que teria todo o seu apoio para ser o representante do PMDB na chapa da ministra da Casa Civil. A desistência de concorrer ao governo goiano foi sacramentada pelo presidente do BC em nota oficial há um mês.
Para se ter uma ideia da batalha que o presidente do BC terá pela frente para garantir a vaga de vice de Dilma, o alto comando do PMDB fez questão ontem de dar uma demonstração de força a favor de Michel Temer durante a posse da nova Comissão Executiva do partido. ;Quem sabe não aproveitamos o encontro do partido em maio para aclamar o nome de Temer (para formar dobradinha com a ministra da Casa Civil)?;, insinuou o senador Valdir Raupp (RO), empossado como primeiro vice-presidente da legenda. A sugestão, em tom de ameaça, foi vista como uma resposta ao disse me disse que tomou conta do mercado, diante da informação de que Meirelles deixará o BC no dia 31 próximo.
Embora alguns digam em conversas reservadas que basta ceder mais espaço de governo aos peemedebistas e assim garantir a vaga para Meirelles, os caciques do partido fizeram outra ameaça: sem Temer na vice não haverá aliança com Dilma. Se o PT forçar a mão para fazer de Meirelles o vice da candidata governista, pode haver uma rebelião. O problema é que o governo quer usar o tempo do PMDB na televisão para tornar realidade o sonho de Dilma vencer no primeiro turno o candidato tucano, o governador de São Paulo, José Serra.
Resistência
Há, ainda, um outro grupo que, silenciosamente, vai tomando espaço. A juventude peemedebista acaba de ser conquistada pelo diretório gaúcho, que não deseja a aliança com o PT. E o PMDB Mulher segue para o mesmo caminho, com a posse de Regina Perondi, mulher do deputado Darcísio Perondi (RS). Os dois movimentos foram recebidos pela cúpula como sinais de que os militantes do PMDB não se mostram hoje dispostos a trabalhar pela candidatura da ministra. Quem conduziu os dois movimentos foi o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Eliseu Padilha, ex-ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso.
Quanto à candidatura de Meirelles ao Senado por Goiás, o partido vai esperar para ver se ele realmente se movimentará nessa direção. Até o momento, conforme relato de peemedebistas do estado, nada de concreto foi feito.