A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, reconheceu ontem que o Partido dos Trabalhadores pagará um salário para ela durante a campanha eleitoral rumo ao Palácio do Planalto. Como o Correio antecipou em reportagem publicada no domingo, o partido pretende bancar as despesas da pré-candidata e dar uma ajuda de custo semelhante ao valor recebido por Dilma à frente da pasta ; o salário atual é de cerca de R$ 10,7 mil.
;Eu vou ter que viver, sou obrigada a me licenciar da minha atividade não só como ministra, mas da minha origem. Eu sou da fundação de economia e estatística e também não posso receber por lá, tenho que pedir licença. Não posso viver de brisa e não sou rica, vou ter que ter um salário do PT;, resumiu. Segundo a ministra, que deixará a Casa Civil no início de abril, será a primeira vez que o partido custeará seus gastos.
Ontem, a pré-candidata do PT participou de solenidade no Senado em homenagem às mulheres e aproveitou para defender a participação feminina na política. No discurso, Dilma afirmou que as mulheres são ;práticas, sensatas e objetivas;, características, segundo ela, fundamentais para o exercício político. A ministra ressaltou o pequeno número de mulheres no Congresso e no Executivo e afirmou que o país está pronto para eleger uma mulher como chefe de Estado. ;Sempre me perguntam se a mulher está preparada para ser presidente do Brasil. Eu digo a vocês: o Brasil está preparado para ter uma mulher presidente;, afirmou. A ministra procurou ainda apontar diversos benefícios concedidos por programas do governo, como o Bolsa Família e o Luz para Todos, ao público feminino.
Pré-candidata do Partido Verde às eleições presidenciais, a senadora Marina Silva (AC) participou da sessão comemorativa, cumprimentou Dilma, ex-colega no PT, e também ressaltou o papel feminino na política ; e a chance de o país ter uma mulher, pela primeira vez, à frente do Palácio do Planalto. ;Isso é uma conquista das mulheres por sua luta nos últimos 100 anos, mas é também uma conquista particular da sociedade brasileira.;
Tesouraria
Ontem, a ministra Dilma Rousseff afirmou ainda que as contas de sua campanha não devem ser administradas pelo tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Na semana passada, a revista Veja divulgou que o petista é investigado pelo Ministério Público por suposto desvio de recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), presidida por ele no passado. ;Nós temos tido, nas últimas eleições, uma opção por diferenciar as duas tesourarias (1). A tesouraria do partido tem mais obrigações que a campanha presidencial. Então, a tendência é manter isso;, declarou Dilma. A ministra, entretanto, reforçou que Vaccari tem direito de defesa frente às acusações de desvio de recursos. Em nota divulgada ontem, assinada pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, a legenda declarou que as denúncias contra o tesoureiro são ;ataques mentirosos, infundados e caluniosos;.
1 - Cargo delicado
Na campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escolhido para o cargo de tesoureiro foi o então prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior ; à época, o secretário de Finanças do PT era Paulo Ferreira. Lula preferiu não escolher ninguém da burocracia do partido, como fez nas eleições de 2002, quando a opção foi pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O petista foi um dos pivôs do escândalo do mensalão e é réu em processo no Supremo Tribunal Federal, acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha.