O PR fará uma convenção no início de abril para passar o trator sobre aqueles que ameaçam não apoiar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Palácio do Planalto. A presidência do partido ficará sob o comando do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que, além de ser um dos ministros de fora do PT mais próximos a Dilma, tem hoje o lastro do Planalto para concorrer ao governo do Amazonas.
A decisão da troca de comando foi tomada depois que o grupo empenhado na candidatura de Anthony Garotinho no Rio acenou com a possibilidade de abrir mais um espaço para o tucano José Serra no estado. A ameaça, feita durante o carnaval, foi a resposta do PR ao fato de o governador-candidato, Sérgio Cabral, ter pedido à ministra que lhe desse a preferência de parceria eleitoral.
A insinuação foi a gota d;água para o Planalto e para Nascimento, que, aos poucos, foram percebendo sinais localizados do PR contrários à aliança com Dilma. No Ceará, por exemplo, o deputado Roberto Pessoa deseja ser candidato a governador, mas lá o palanque de Dilma é o do governador Cid Gomes, candidato à reeleição. No Rio Grande do Norte, o deputado João Maia (PR) planeja uma candidatura ao governo estadual, mas o PT nacional trabalha a aliança com o PSB da atual governadora Vilma de Faria. O candidato à sucessão de Vilma é o vice-governador Iberê Ferreira, que assume o cargo em abril. Maia é ainda próximo à senadora Rosalba Ciarlini, candidata do Democratas. Não está descartada a montagem de um palanque com o PR na sua chapa, caso Maia não consiga ser candidato a governador.
Na Bahia, o senador César Borges, que pertencia ao grupo do senador Antonio Carlos Magalhães, não encontrou espaço ao lado do PT do governador Jaques Wagner e começa a se reaproximar do deputado ACM Neto (DEM) e do ex-governador Paulo Souto. Essa semana, conversou com ACM Neto: ;A dinâmica nacional é diferente da estadual. Estamos conversando em torno de uma aliança local;, afirma o deputado ACM Neto, a quem César Borges apoiou para prefeito de Salvador na eleição de 2008.
Desconforto
Em São Paulo, a situação do PR também não é nada confortável ao lado do PT. O prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, tem ligação antiga com o Partido da República, ao ponto de ter sido presidente da legenda. Ele participou ativamente da campanha de Guilherme Afif Domingos à Presidência da República em 1989 e, ainda que hoje ambos estejam no DEM, as ligações com o PR não morreram e não está descartado que o partido termine no palanque tucano-democrata no estado.
Todos esses movimentos formaram um caldo que terminou por levar o PR a ter que mudar a estratégia até junho, data das convenções partidárias. Até porque o próprio Alfredo começa a ouvir o barulho do motor do PMDB disposto a implodir sua plataforma eleitoral no Amazonas. Lá, é cada vez mais forte o movimento peemedebista em torno da candidatura do vice-governador Omar Aziz ao governo do estado. Quando o atual governador, Eduardo Braga, sair para concorrer ao Senado, Aziz assumirá o governo e já disse a amigos que está interessado em disputar a reeleição.
Alfredo Nascimento fará tudo para estancar a candidatura de Aziz. Ainda em março, como futuro presidente do PR, espera ter mais poder de fogo para cobrar do Planalto uma ajuda no sentido de dinamitar o adversário e assegurar que a ministra Dilma estará apenas no seu palanque. Hoje, o comando do PR acredita que, se conseguir colocar o partido engajado na campanha da ministra, será meio caminho andado para deixar Dilma no palanque de Alfredo.