Se por um lado o partido reforçou o pragmatismo do presidente Lula neste segundo dia do Congresso que vai chancelar Dilma como a pré-candidata do partido, por outro buscou aproximar-se da militância de base radical. O texto do PT, que será base de discussão dos partidos aliados, faz uma defesa enfática da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, critica a homofobia nas Forças Armadas, reforça a necessidade de combate ao monopólio dos meios de comunicação e prega a taxação das grandes fortunas. O texto original dizia que era necessária ;a construção de consenso para lograr as 40h;. A emenda aprovada prevê ;compromisso com a defesa da jornada de 40h sem prejuízo ao salário;. O texto que constará nas diretrizes do programa de governo do PT faz uma crítica à posição do general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho que, em audiência no Senado, disse ser contra a presença de gays nas Forças Armadas. ;É salutar aprovar uma proposta contra a homofobia. Isso não impede as manifestações contrárias, mas esse é um debate que está sendo feito em todo o mundo;, disse o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro.
Também foi aprovado apoio incondicional ao Programa Nacional de Direitos Humanos, que causou polêmica na caserna por propor a criação de uma Comissão da Verdade para apurar os crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). A taxação de grandes fortunas foi incluída no texto sobre reforma tributária. Essa é uma bandeira antiga do PT que permeou todas discussões da reforma no Congresso, mas não reuniu apoio para sair do papel. A guinada à esquerda ocorreu num momento que o Diretório Nacional acabou com a autonomia dos dirigentes estaduais para decidir sobre candidaturas próprias e políticas de aliança.
Prioridade
A cúpula da legenda argumentou que liberar os estados para fazer o que desejarem levaria o PT a se transformar num PMDB. ;O PT não é o PMDB. É um partido nacional de política nacional e nossa prioridade é eleger a Dilma;, disse o deputado Jilmar Tatto (SP), da corrente PT de Luta e de Massas. Para o secretário de Movimentos Populares, Renato Simões, a legenda do presidente da República está sendo jogada para escanteio na eleição. ;Deve ser prioridade lançar candidatos em qualquer nível. Por essa tática, aos adversários tudo pode, ao PT nada diz respeito;, criticou Simões. A estratégia é destinada para os estados que há dificuldade para formalizar aliança com o PMDB, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, estão num braço de ferro para saber quem será candidato.
Enquanto isso, o PMDB cobra uma solução por não querer um petista contra o ministro das Comunicações, Hélio Costa. No Rio de Janeiro, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, quase colocou o acordo com os peemedebistas em risco ao ameaçar se lançar ao governo contra o atual mandatário Sérgio Cabral. A aliança dos dois partidos anda com problemas também na Bahia, no Ceará, no Pará, no Mato Grosso do Sul e no Paraná.
O ex-presidente do partido deputado Ricardo Berzoini colocou mais lenha na fogueira na questão de Minas Gerais. Ele rejeitou a tese levantada por Costa para fazer um levantamento de intenção de votos. Qual dos três tivesse maior percentual seria o indicado. ;Não vale a pena fazer uma pesquisa. A população não assimilou os candidatos ainda e ficaria superficial;, disse o antigo dirigente. O partido rejeitou fazer um maior afago aos principais aliados. Proposta dos deputados paulistas Carlos Zarattini e José Genoino de colocar o PMDB como preferencial na aliança foi derrubada por José Eduardo Dutra. O texto menciona apenas alianças com partidos aliados. ;O PMDB está contemplado nisso;, defendeu Berzoini.
"O PT não é o PMDB. É um partido nacional de política nacional e nossa prioridade é eleger a Dilma"
Deputado Jilmar Tatto, da corrente PT de Luta e de Massas
Deputado Jilmar Tatto, da corrente PT de Luta e de Massas