Jornal Correio Braziliense

Politica

Potenciais rivais, Henrique Meirelles e Hélio Costa adotam a diplomacia

Dois peemedebistas bem cotados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para integrar a chapa da ministra Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro das Comunicações, Hélio Costa, passaram pela convenção nacional do PMDB, ontem, de forma discreta e sem discursos categóricos. Enquanto o tom do evento dava como certo o nome de Michel Temer para vice na aliança nacional PT-PMDB, Meirelles desconversou sobre as especulações a respeito de sua indicação. ;Minha absoluta atenção, no momento, até o começo de abril, é ao Banco Central. No fim de março, aí sim, devo pensar e tomar uma decisão: se fico no BC ou se vou contemplar alguma via eleitoral;, afirmou.

Meirelles, que desde setembro do ano passado, quando se filiou ao PMDB, é visto como um forte candidato a vice na chapa de Dilma, pode ser uma peça importante do jogo eleitoral, especialmente com a perspectiva de a área econômica ser um componente estratégico nos debates eleitorais. Ele assumiu o cargo de presidente do Banco Central no início do primeiro mandato de Lula e faz uma gestão bem avaliada dentro do Executivo. Meirelles, que não descarta concorrer a uma vaga no Senado, afirmou ontem que ;como ministro; tinha de estar presente na convenção nacional do partido.

Discurso
Costa, ministro das Comunicações e também postulante à vaga de vice de Dilma, manteve o discurso dominante na convenção, de apoio a Michel Temer como candidato a vice ao lado de Dilma Rousseff. Sua candidatura ao governo de Minas Gerais é defendida pela cúpula do PMDB. Porém, conforme adiantou ao Correio em entrevista na sexta-feira, o ministro ainda não bateu o martelo sobre a questão. Ele já abre uma possibilidade de não embarcar nos planos do partido para, caso o vice-presidente José Alencar (PRB) decida disputar o governo de Minas Gerais. ;Se ele for candidato, quero ser o mais importante cabo eleitoral;, destacou Costa, afirmando que sairia da disputa com os petistas Patrus Ananias, titular do ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte.

Michel Temer, presidente do PMDB reconduzido ontem ao cargo, destacou que o partido buscará candidaturas únicas nos estados em que, a exemplo de Minas Gerais, pode haver disputa dentro da base. ;Para fechar alianças, é preciso que haja solução negociada nos estados. Em Minas, o Hélio Costa, nas pesquisas, está em primeiro lugar, uma posição de relevo;, disse Temer.



Casamento pendente
; Danielle Santos

A manutenção de Michel Temer (SP) na Presidência do PMDB enfatiza uma estratégia para dar legitimidade em busca de uma aliança presidencial com o PT, mas não é o suficiente. Apesar da vitória com apoio de mais de 80% dos convencionais (levando-se em conta os que boicotaram o evento), cientistas políticos acreditam que só em junho sairá a definição do quadro de coligações, nas convenções partidárias.

;A Convenção do PMDB foi apenas uma tentativa de forçar uma condição para a chapa PMDB-PT, mas não dá poder de se decidir nada. Até porque o PT realizará um congresso após o carnaval e essa temática será levantada. Tudo o que se fizer antes de junho é tentativa;, afirma David Fleischer, professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB).

A disputa interna dentro do partido ainda é um dos entraves para a formação da chapa com o PT, avalia o cientista político Cristiano Nogueira, da Arko Advice. ;Resta ajustar as arestas com os estados que querem uma candidatura própria e têm problemas históricos com o partido de Dilma Rousseff, como Rio de Janeiro e Pará, por exemplo;, analisa. O especialista desenhou outras possibilidades de desacordo entre as legendas. ;Ainda tem muita coisa pela frente e fatos relevantes podem mudar o cenário. Seja pelo aparecimento de um possível escândalo envolvendo um dos partidos ou até a queda expressiva de Dilma nas pesquisas, por exemplo. Toda a aposta que se fizer para forçar essa aliança é prematura, mas o PMDB está caminhando para o rumo certo.;

Já o professor Charles Freitas Pessanha, da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considera que ;existe um jogo de esconde-esconde que ainda não se definiu dentro do partido. A própria lista tríplice pedida pelo PT incomoda Temer e será motivo de incertezas;, comenta.