Nem só da discussão de projetos para o país viverão os pré-candidatos à sucessão presidencial. Neste fevereiro, três dos quatro nomes que se colocaram na disputa pela sucessão presidencial testarão sua popularidade junto ao eleitorado. Eles terão como destino os maiores expoentes do carnaval no Brasil: Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Os palanques, no entanto, serão diferentes. Ao invés de bandeiras dos partidos e fotos com aliados, exibirão estandartes de clubes, blocos e agremiações de frevo, samba e axé music. Sobre eles, sorridentes, estarão a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governador de São Paulo, José Serra, e o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), distribuindo charme entre os foliões.
Dilma Rousseff já bateu o martelo. Marcará presença nos três maiores carnavais do país: Recife, Rio e Salvador. No ano passado, ela fez o primeiro teste. Desembarcou no Galo da Madrugada, maior bloco do mundo, e ensaiou passinhos de frevo para um público estimado em cerca de um milhão de pessoas. Na ocasião, a ministra havia acabado de fazer uma plástica. E disse para jornalistas que cobriram o evento que o lifting facial havia sido um ;sucesso de crítica;.
Ela também posou para fotos com um chapéu típico de carnaval, estampado com a bandeira de Pernambuco. Sua presença no camarote do governo do estado foi registrada em vídeos amadores postados no site YouTube. Em um deles, a ministra aparece ao lado do governador Eduardo Campos (PSB), com óculos escuros na cabeça, trajando uma mortalha de carnaval. São 57 segundos de filme. No início, ela distribui acenos tímidos para o público. Mas a batida do som aumenta, e o governador se solta, jogando os braços para cima e para baixo, e sacudindo as pernas sem parar. Dilma não deixa para menos. Bate palmas e levanta o bracinho. Uma típica foliã. Neste carnaval, ela deve caprichar ainda mais na coreografia. Afinal, em ano eleitoral, pré-candidato que se preze tem que colocar o bloco na rua.
O governador José Serra foi pressionado pela cúpula de seu partido, o PSDB, para curtir a folia fora de São Paulo. O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), presidente da legenda, já fechou um camarote na capital pernambucana contando com a presença do aliado paulista. Sabe-se que Serra gosta de forró. O.k., não é frevo, mas já é alguma coisa. E que gosta de dançar. Mas o governador ainda não confirmou a presença.
Serra só confirmará a ida às vésperas do feriado. O motivo da demora é o mau tempo que assola o estado de São Paulo desde o início do ano. Só a capital paulista contabiliza 43 dias seguidos chuvas. E o governador já avisou aos aliados que, se chover, não sai do estado.
Ele sabe que não pegaria bem ser fotografado sob confetes e serpentinas enquanto ruas ou cidades inteiras estariam debaixo d;água no estado que dirige. Quer evitar o fiasco que afligiu o governador do Rio, Sérgio Cabral (1) (PMDB), na virada do ano. Cabral ficou fora do ar até 2 de janeiro, enquanto Angra dos Reis contabilizava as vítimas dos deslizamentos de terra desde a madrugada do dia 1;.
O deputado Ciro Gomes, que reafirmou ontem a disposição em concorrer ao Palácio do Planalto, deve descansar no Rio de Janeiro, ao lado de sua esposa, a atriz Patrícia Pillar. Ciro é figura cativa no carnaval carioca. Ano passado, também ficou por lá.
O Rio, aliás, receberá o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele assistirá aos dois dias de desfile das escolas de samba no Sambódromo, no camarote de Sérgio Cabral. No ano passado, Lula também passou por lá, mas prestigiou apenas os desfiles de domingo. Dilma irá coordenar sua passagem pelo Rio com a agenda do presidente. Em ano eleitoral, vale repetir, pré-candidato que se preze tem que desfilar com os melhores puxadores de voto à tiracolo.
Quem vai ficar de fora da folia é a senadora Marina Silva (PV-AC). Ela nem chegou a cogitar desfilar o ar de sua graça nos destinos mais disputados do país. Marina é evangélica, mas deixou claro para a cúpula de seu partido que não estava deixando o carnaval de lado por conta da religião. A ex-ministra de meio ambiente deu uma justificativa ideológica para sua ausência. Disse que nunca precisou desfilar em bloco de carnaval para fazer política. E não vai começar a fazê-lo agora, só porque vai concorrer à Presidência da República. Avisou que ficará em casa, com a família, e deu o assunto por encerrado.
1 - Demora
As chuvas castigaram o Rio de Janeiro no início do ano. Foram pelo menos 72 vítimas em todo o estado ; 52 só em Angra dos Reis. O pesadelo dos cariocas começou na madrugada do dia 31. No dia 1;, o governo do estado divulgou uma nota, em nome de Sérgio Cabral, lamentando ;profundamente; as mortes provocadas pelas enchentes e pelos deslizamentos. Questionada sobre o paradeiro do governador, a assessoria de imprensa disse que ele estava monitorando a situação. Cabral apareceu apenas no dia 2. Na ocasião, sobrevoou as áreas mais atingidas em Angra e deu entrevistas. Foi criticado pela demora.