A luz de alerta está ligada. O pico de pressão arterial de 18 por 12 que o presidente Lula apresentou quando se preparava para deixar o Recife foi prova de que por trás do ícone existe um homem de 64 anos que fuma ; 20 a 30 cigarrilhas diárias, ultimamente ; e tem carga de trabalho exaustiva. A crise hipertensiva, dizem os médicos, foi pontual. O presidente não é hipertenso, mas terá que repensar os planos eleitorais e, literalmente, desacelerar.
;É até bom que tenha acontecido porque acendeu a luz amarela. Vou ter que ter um pouquinho mais de cuidado;, disse o presidente a um dos médicos que o atenderam no Recife. Segundo o cardiologista Sérgio Montenegro, do Real Hospital Português, onde Lula ficou internado, o presidente apresentou mal-estar, tontura, calafrio, tremor e sensação de falta de ar no avião. Chegou ao hospital com semblante abatido e sinais de fadiga. Nada que o impedisse, no entanto, de perguntar o placar do jogo do Náutico, time do coração do presidente, que venceu o Santa Cruz naquela noite por 2 x 1.
;Como a gente não sabia o que era, acionamos o hospital inteiro. Toda a parte de cardiologia, hemodinâmica, cirurgia. Estava todo mundo em alerta;, disse Montenegro. O presidente passou por avaliação clínica e exame físico que incluiu ausculta respiratória e cardíaca, além de apalpação abdominal. Em seguida, foi submetido a eletrocardiograma (método para medir a atividade elétrica do coração), radiografia e tomografia de tórax e de abdomen, ecocardiograma (que utiliza a ultrassonografia para visualizar o coração) e cerca de 30 exames laboratoriais. Uma hora e meia depois da chegada do presidente, os testes tinham sido concluídos. Os resultados estavam normais.
[SAIBAMAIS]Após os exames, Lula passou a madrugada no quarto 1306, uma suíte presidencial de três andares no 13; andar, chamada por funcionários de ;andar das celebridades;. A ministra Dilma Rousseff descansou no quarto 1308. Lula, que não conseguiu jantar naquela noite, pediu frutas e água de coco. E quase não dormiu. Segundo funcionários que acompanharam o presidente de perto, ele cochilou uns 40 minutos.
Frenesi
;Vocês vão me desculpando pelo trabalho que estou dando;, era a frase que Lula não cansava de repetir aos funcionários do hospital pernambucano. A simplicidade e o bom humor do presidente foram o que mais marcou médicos, enfermeiros, copeiras e nutricionistas. ;Depois do café da manhã (pouco antes da alta médica) ele caminhou pelo corredor. Abatido, mas bem-humorado, cumprimentou as pessoas que serviram ele durante a noite e fez a gentileza de tirar várias fotos;, contou Magali Schilling, coordenadora de nutrição. Logo cedo, o médico Cláudio Gomes acompanhou Lula à varanda da suíte para ver a paisagem. ;Mostrei a ele uma das coisas mais bonitas da cidade, que é a Ilha do Retiro, campo do Sport. Ele olhou e disse: ;É bonito, mas gosto do Náutico, que, inclusive, ganhou do Santa Cruz;;, lembrou ao médico.
Três perguntas para Roberto Kalil Filho, cardiologista do presidente Lula
O que aconteceu com o presidente?
Ele teve um aumento da pressão arterial na noite de quarta-feira e foi medicado. Já passa bem. Não consultei o presidente. Mas soube pelos médicos do Recife que ele está bem e a pressão está controlada por medicamentos.
Qual a causa dessa elevação de pressão?
Não o consultei, mas acredito que deve ter sido cansaço, pois a agenda dele é muito pesada e ele dorme pouco. Mas posso afirmar que ele é uma pessoa saudável.
Quando o senhor vai avaliá-lo?
Tentei levá-lo ao Sírio-Libanês para fazer um check-up, mas ele se recusou. Preferiu descansar em casa. Mas, até o fim de semana, farei uma consulta.
Ouça entrevista com o médico: