Jornal Correio Braziliense

Politica

Vaccarezza discorda da estratégia de Lula para as eleições deste ano

Opinião do deputado diverge da do presidente, qua apóia candidatura própria do PT em São Paulo e Michel Temer como vice de Dilma

São Paulo ; Líder do PT na Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (SP) não compartilha da opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pelo menos dois pontos. Eles divergem em relação ao nome para disputar o governo de São Paulo e sobre a possível escolha do presidente nacional do PMDB, Michel Temer, à vice-presidência da República na chapa de Dilma Rousseff. No pleito paulista, Vaccarezza defende o atual prefeito de Osasco, Emídio de Souza (PT), figura de tímida expressão política. Lula insiste no deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), numa estratégia para tirá-lo da corrida presidencial e trazê-lo para o campo aliado. No segundo ponto de divergência, o líder do PT defende Michel Temer, a quem Lula, nos bastidores, torce o nariz. ;Trata-se de um político respeitado e um homem ponderado. Como é presidente do PMDB, poderá dar estabilidade ao apoio do partido nacionalmente, apesar dos problemas que ocorrem em alguns estados;, defende Vaccarezza.

Médico, 54 anos, baiano, um dos fundadores do PT em São Paulo, onde faz parte do grupo liderado por Marta Suplicy, ele é um dos maiores articuladores políticos do PT. Em entrevista ao Correio, aponta ;erros crassos; de Ciro e o chama de ;contraditório;. Na avaliação do deputado, a maior dificuldade do ;Projeto Dilma; será conquistar o eleitor paulistano, um dos mais conservadores do país.


O que falta para o PT lançar candidato próprio ao governo de São Paulo?
Ainda estamos decidindo o que fazer em São Paulo. O PT quer constituir uma frente capaz de ganhar as eleições paulistas e ainda ajudar a Dilma Rousseff a ser presidente do Brasil. Hoje, afirmo que o nosso candidato é do PT, não de outro partido.

Então o plano do presidente Lula de lançar o Ciro Gomes foi abortado?
Eu sou o maior defensor da candidatura do Ciro ao governo de São Paulo, mas ele não quer e não podemos impor isso a ele. Já está mais do que na hora de organizarmos outra possibilidade.

O Ciro diz que não quer conversa com o PT por causa da aliança do partido com o PMDB.
Esse é o erro crasso do Ciro. Só vamos ganhar a eleição no Brasil se fizermos alianças de centro-esquerda, principalmente com o PMDB, um partido democrático e que participou da luta contra a ditadura. Além do mais, o Ciro se elegeu deputado pelo Ceará com base numa aliança com o PMDB. Criticar a aliança, hoje, é contraditório.

Na ausência do Ciro, qual o nome mais viável?
O primeiro deles é o Emídio de Souza, prefeito de Osasco. Ele quer ser candidato, está com vontade e é um nome novo, cheio de gás. Em minha opinião, seria o elemento surpresa na eleição paulista. Além dele, temos o Aloizio Mercadante, o Antônio Palocci e a Marta Suplicy.

O presidente Lula disse que o PT de São Paulo recorre a um erro histórico ao apresentar sempre candidatos novos. Optar pelo Emídio, um desconhecido, não é insistir no erro?
O presidente Lula tem 99,9% de acerto. Essa avaliação sobre nomes novos representa o 0,01% de erro. Não acho que apresentar gente nova seja erro. A repetição da mesma candidatura não representa uma vitória. Em nenhum estado em que o PT governa houve repetição sistemática de candidatura.

O Lula disse que o troca-troca de nomes em São Paulo fortaleceu o PSDB.
Não vejo assim, apesar de o PSDB ter conseguido três vitórias no estado. Mas os tucanos não estão crescendo. Na Grande São Paulo, só não governamos Santo André.

Depois de se envolver em tanto escândalo, o senhor acha que o Palocci resistiria a uma campanha?
O Palocci foi julgado inocente pelo STF. Mais tarde, a história vai mostrar que é inocente também no esquema do mensalão. No caso do PT, quando se fala do mensalão, não teve dinheiro público envolvido. Houve um erro político que foi o Caixa Dois. Os envolvidos pagaram um preço bem maior do que o crime cometido. A sociedade sabe disso.

O senhor acha mesmo que a opinião pública pensa assim?
A população sabe separar o joio do trigo. A história do mensalão já foi usada fartamente na campanha pelos adversários e não deu certo. O brasileiro sabe quem é corrupto e quem não é.