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Lula aproveita confraternização com ministros para tentar apaziguar ânimos entre políticos do PT e do PMDB e salvar alianças

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a confraternização natalina com ministros para aparar arestas da relação entre o PT e o PMDB, num momento peculiar em que ele próprio está no centro das tensões. Os impasses na Bahia, no Ceará e no Pará, estados importantes no xadrez eleitoral para a consolidação da aliança em torno da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, entraram no cardápio do jantar da residência oficial do Torto.

Protagonista do clima desconfortável instalado desde que defendeu uma listra tríplice peemedebista para a escolha do candidato a vice, Lula entrou em campo para resolver os outros problemas de atrito entre representantes das duas legendas. O presidente tirou o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), para uma conversa e pediu empenho dele em reatar os laços com o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

Afastados desde a eleição municipal do ano passado, Geddel e Wagner estão às turras com direito a cenas policialescas. Lula pediu que o ministro da Integração Nacional abaixasse as armas e procurasse Wagner para reabrir o diálogo. Depois que a Polícia Civil do estado pretendeu Antônio Lomanto Neto, indicado de Geddel para a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), o ministro ganhou um programa de rádio semanal para atacar a administração de Wagner.

Geddel, convalescido pelo desempenho abaixo do esperado nas pesquisas de intenção de votos, viu nesse canal com a população um palanque periódico para se tornar um candidato competitivo ao governo estadual. Peemedebistas avaliam que os resultados dos últimos levantamentos, no entanto, abrem espaço para a retomada do entendimento com Wagner. Pesquisa Datafolha divulgada na terça-feira mostra que o petista venceria a eleição em primeiro turno, enquanto o peemedebista alcançaria 11%.

Dois palanques
Nas conversas que teve com seus subordinados, Lula também tratou dos cenários no Ceará e no Pará. Segundo peemedebistas, o presidente voltou a dizer que o ministro da Previdência, José Pimentel, ficará até o fim do governo e não sairá para disputar uma vaga ao Senado pelo Ceará. Petistas confirmam o desejo do presidente da República, mas afirmam que dificilmente Pimentel não será candidato. Setores do PT enxergam nessa disputa uma chance de evitar a reeleição do senador Tasso Jereissati (PSDB).

Na conversa, houve espaço até para uma pincelada pelo Pará, outro estado problemático para a aliança eleitoral. Lá, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) vive impasses rotineiros com o deputado Jader Barbalho (PMDB). Lula disse, segundo o relato de peemedebistas, que toparia ter dois palanques para a ministra Dilma Rousseff diante da dificuldade de acerto. Para reativar a aliança, Jader quer retomar a Secretaria de Saúde e indicar o vice na chapa à reeleição. Ana Júlia aceita discutir só o pacto eleitoral. Sobre o espaço no governo, concordaria em dar aos peemedebistas uma secretaria com peso similar ao da Saúde.

Problema político
Desde que assumiu a Presidência da República, o presidente Luiz Inácio compareceu todos os anos à confraternização natalina dos catadores de material reciclável e moradores de rua em São Paulo. No evento de ontem, o presidente avaliou que um dos principais problemas de habitação no país é que parte da sociedade não aceita os pobres morando no centro das cidades.

;Tem uma parte da sociedade que não quer vocês morando no centro;, avaliou. ;Neste país é assim. Todo mundo quer feira, mas não quer a feira na rua de casa. Todo mundo quer ponto de ônibus, mas não quer ponto de ônibus na porta de casa. Todo mundo quer delegacia, mas não quer próximo. Prisão, então, ninguém quer. Pobre é bom para a gente ver em filme, não para morar no prédio que a gente mora.;

Lula deixou clara uma torcida pela eleição a presidente de sua candidata, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e pediu às organizações dos moradores de rua que montem o mais rápido possível uma lista de reivindicações habitacionais. ;Mas tem que ser logo, porque quando eu vier aqui em dezembro do ano que vem já vai ter outra pessoa eleita, e eu já serei rei posto, e rei posto não pode fazer promessa;, brincou. ;De qualquer forma, se for (eleito) quem eu penso, poderemos voltar juntos para fazer promessa;, completou, em referência a Dilma.

O presidente assinou um decreto que criou a Política Nacional para a População em Situação de Rua, destinada a levantar as necessidades do setor e definir medidas para essa faixa de brasileiros. ;Temos de 50 a 60 mil moradores de rua, mas não temos uma pesquisa confiável. O IBGE vai se comprometer em fazer isso;, explicou. Ele também editou uma medida provisória que institui crédito do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para empresas que comprarem material reciclado por cooperativas de catadores. Lula ainda aproveitou o momento para um autoelogio: ;Eu duvido que já tenha tido em algum momento da história deste país não um presidente, mas um governo que tivesse compromisso e a relação mais forte que nós temos com os movimentos sociais;, defendeu.