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A nova imagem da ministra

Conhecida pela fama de durona, Dilma se emociona em cerimônia sobre direitos humanos. Petista aposentou a peruca

Candidata do PT e de Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão presidencial, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, apareceu ontem pela primeira vez sem a peruca que usava desde maio deste ano, quando começou a ser submetida a sessões de quimioterapia para tratar um câncer no sistema linfático. De vestido azul e com os cabelos curtos na tonalidade castanho escuro, a petista se emocionou ao entregar o Prêmio Direitos Humanos 2009, na categoria Direito à Memória e à Verdade, à amiga Inês Etienne Romeu. "Ela é o testemunho da coragem e da dignidade de uma geração. Quem viveu aquele tempo em que a palavra democracia era esquecida, quando não perversamente deturpada, compreende o sentido do resgate e da conservação da memória do que ocorreu no país naquele período", disse a ministra. Sob aplausos e com dificuldade de prosseguir seu discurso de quase 10 minutos, Dilma lembrou que cruzou seu destino com o de Inês em uma esquina de Belo Horizonte. "Inês, o Brasil te agradece com este prêmio. Obrigada por tudo", afirmou a candidata de Lula, para quem o país passa por uma importante transformação social, política, econômica e democrática. Inês (1) foi uma das 16 agraciadas com o prêmio, que está em sua 15ª edição. Ouça trecho do discurso da ministra Dilma Rousseff

Elogios Sobre o novo visual, Dilma limitou-se a afirmar que tirou a peruca porque achou que o cabelo "já estava bom". Segundo a ministra, não dava para ter tirado antes. Na mesma cerimônia, onde também houve o lançamento do Programa Nacional de Direitos Humanos, Lula brincou com os poucos fios de cabelo do vice José Alencar. "Vocês me viram botando a mão no cabelo do Zé Alencar. É que teve um tempo que tinha caído o cabelo do Zé Alencar. E vocês estão percebendo que a Dilma está de cabelo novo. Não é peruca não. É cabelo normal dela, que voltou a se apresentar em público". Depois de um breve momento de descontração, o presidente lembrou recente episódio ocorrido numa sede do exército em São Paulo na qual a ministra esteve presa durante a ditadura. "Se alguém prendeu a Dilma, se alguém torturou a Dilma, achando que ali tinha acabado a luta dela, eu digo que ela é hoje uma possível candidata à Presidência da República", afirmou Lula. Momentos antes, o presidente colocara no colo da ministra, durante café da manhã com jornalistas, a responsabilidade de escolher o vice entre quadros do PMDB, buscando desvencilhar-se da crise com o partido aliado. Panos quentes "A relação com o PMDB está tranquila. A candidata é a Dilma, não sou eu. Ela tem que escolher o vice. No momento certo, o PT, a Dilma e o PMDB vão se sentar para escolher, e eu espero não estar presente. Já basta eu ter indicado a Dilma. O PMDB é o maior partido da base aliada e tem todo o direito de indicar o vice", disse Lula, que fez rasgados elogios ao presidente da Câmara, Michel Temer (SP), cotado para compor a chapa da ministra na corrida presidencial. Lula explicou que não tentou interferir numa decisão interna do PMDB ao sugerir a lista tríplice para a definição do vice. Disse ter sido alvo de uma saia-justa de um jornalista que perguntou, na frente do ministro de Minas e Energia, o peemedebista Edison Lobão, se ele preferia Lobão ou Temer como integrante da chapa petista. Nessa retomada do namoro com os peemedebistas, o presidente aproveitou críticas do deputado Ciro Gomes, pré-candidato do PSB à Presidência, sobre a relação que PT e PMDB têm no Congresso para defender, de uma maneira pouco usual, o acordo. "O Ciro sabe que temos de fazer alianças com os partidos que existem neste país. Não podemos fazer aliança com partidos extraterrestres", disse Lula. 1 - Companheira Em maio de 1971, durante a ditadura militar, Inês Etienne foi presa em São Paulo - onde foi torturada pelo delegado do DOPS Sérgio Fleury, personificação da truculência - e, depois, transferida para o Rio de Janeiro. No ano seguinte, a mineira de Pouso Alegre foi condenada à prisão perpétua. Inês foi beneficiada pela anistia em 1977 e, dois anos mais tarde, denunciou a tortura e o desaparecimento de outras pessoas durante o regime militar.