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Coordenadores da campanha de Dilma tentam encontrar discurso para melhorar imagem da candidata

O PT travou na tentativa de forjar uma imagem mais agradável aos eleitores para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para além da proposta de ;gerentona; do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para não cair na mesmice da continuidade de um governo preocupado com o social, os coordenadores da campanha se debatem em cima de teses, versões e propostas de olho no que fará diferença na eleição do ano que vem.

O ponto de partida dessa discussão começou com as rejeições. Ministros, petistas e os marqueteiros que pensam na proposta a ser apresentada por Dilma não querem mais saber da tal ;mãe do PAC;. O argumento é que a associação a projetos de infraestrutura engessa qualquer tentativa de vitória na corrida pelo Palácio do Planalto. É preciso avançar. A ideia é fincar os pés em cima do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida e do Luz para Todos. Apresentar a proposta de uma mulher que poderá levar para ainda mais pessoas o que Lula colocou em prática.

Mas a proposta desse tripé é velha. Ela surgiu de uma ampla pesquisa qualitativa há alguns meses. O PT ainda não realizou uma nova rodada de levantamento para saber o que os potenciais eleitores querem ouvir na campanha. E não fez porque não sabe o que propor. O que ninguém nega é a necessidade de vinculá-la ao presidente Lula para forçar a transferência(1) de votos e sua popularidade.

[SAIBAMAIS];Temos de reforçar a capacidade de gestão, o compromisso com o governo e a história de vida pela luta pela democracia, além da óbvia vinculação com Lula;, disse o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra. O problema é que o Partido dos Trabalhadores patinou, na avaliação de aliados, na apresentação de Dilma como sucessora de Lula no programa de 10 minutos que foi ao ar na semana passada. Nele, a ministra aparece repetindo e concordando com as teses apresentadas pelo presidente escancarando artificialidade e falta de manha política da ;gerentona;.

;Como principal ministra do governo, é natural ela ter o discurso social;, afirmou Dutra. ;A roupagem mais popular será dada pelos marqueteiros;, acrescentou. O PT tem tentado minimizar a dificuldade de Dilma em apresentar um discurso mais simples e menos técnico lembrando que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), um dos pré-candidatos tucanos, tem perfil parecido. A vantagem, segundo eles, é que os números da era Lula favorecem na comparação.

;No debate sobre economia, o governo aumentou o crédito para a população mais pobre, deu aumento real no salário mínimo. Tudo isso tem apelo social;, disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado. Os aliados que participam também dessa discussão de nova imagem defendem que quando a campanha esquentar, a ministra da Casa Civil apresente-se com maior independência de Lula. ;O Lula é o maior eleitor dela, mas a relação de confiança com o povo tem que ser feita com ela. Ela tem que caminhar com as próprias pernas;, afirmou Jucá.

Para tentar minimizar essa crise na campanha, o PT prefere se fiar no crescimento nas pesquisas de intenção de votos. ;Ela dobrou a indicação dos votos, mostrou estar forte para a campanha;, disse o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). ;Para definir a imagem é preciso pesquisas e ainda não temos;, emendou. Uma das táticas já é colocada em prática. Para aproximá-la da agenda ambiental levantada pela senadora Marina Silva (PV-AC), a ministra representa o governo na Conferência do Clima em Copenhague.


1- Escola
A experiência internacional também tem sido aprendizado para os coordenadores da campanha da petista. Duas recentes eleições presidenciais ensinam resultados diferentes. No Chile, onde a Concertación está no poder há 20 anos, a presidente Michele Bachelet, com popularidade beirando os 80%, passa apuros para eleger o sucessor. Seu candidato, Eduardo Frei, teve 30% dos votos e disputará o segundo turno com Sebastián Piñera (44%), apontado como favorito. No Uruguai, Tabaré Vazquez não teve dificuldade em eleger o ex-guerrilheiro José Mojica.