Com roupa colorida, longos sapatos, maquiagem no rosto e nariz caracterÃstico, José Carlos Santos Silva, 49 anos, pedia ontem, no Congresso, maior empenho dos deputados no trabalho legislativo. A caracterização de palhaço não era, entretanto, sinal de protesto contra denúncias de corrupção. Ali, José era o palhaço Plim Plim, ativista das necessidades de sua categoria.
No Dia do Palhaço, comemorado ontem, a Câmara foi sede do I Seminário dos Palhaços Brasileiros. Na pauta, o debate sobre a criação de projeto de lei para a aposentadoria dos artistas do riso e o respeito à lei, em vigor desde 1978,que garante acesso aos filhos de artistas itinerantes à rede pública de ensino. Apesar de contar com a ajuda dos parlamentares, Plim Plim não gosta quando comparam a ação de polÃticos a "palhaçadas". "O polÃtico quando rouba é um ladrão, corrupto. Ele não pode ser comparado a uma profissão que traz alegria. Pode me chamar de chato, mas eu sou contra."
Profissional do circo há 21 anos, José Carlos também perde o bom humor quando vê um manifestante com nariz de palhaço. "Ele não está ali fazendo um manifesto em prol da profissão do palhaço. Nada mais justo do que ir de cara limpa", protesta. Membro da trupe Artetude, Ankomárcio Saúde não se opõe ao uso de elementos do palhaço em manifestações populares. "Quando a própria sociedade se apodera do artefato, é como se a comunidade dissesse 'a gente é palhaço mas não é bobo'. Mas existem maneiras mais inteligentes de fazer protesto", avalia. Para ele, o melhor é não comparar polÃticos a profissionais do circo. "Eu acho que o palhaço é mais profissional que o polÃtico", critica Saúde, também conhecido como o palhaço Tchau Grau-grau.
Onda
Um dos defensores da categoria, o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) foi alvo de brincadeiras em seu estado. "É um momento complicado. Por conta dos escândalos, há uma tendência de generalização. O pessoal acaba tirando onda", disse. Integrante da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, Santiago afirmou que pretende fazer uma revisão da atual legislação que trata do profissional de circo e debater novos projetos.
"Num momento em que se regulamentam tantas profissões, essa também tem que ser", defende o deputado João Matos (PMDB-SC). Ele também apoiou o seminário, mas afirmou que não pôde comparecer por estar em reunião sobre as enchentes em seu estado. Apesar de poucos participantes no evento, Plim Plim estava otimista ao fim do encontro. "Estou aqui por prazer, porque sei que os benefÃcios não são apenas para meu personagem." Filiado ao PDT, ele recolhe assinaturas para criar a Frente Parlamentar dos Artistas Circenses.
CRIME HEDIONDO
O governo federal espera que o Congresso conclua, no primeiro semestre de 2010, a votação do projeto de lei que transforma em crime hediondo a corrupção no alto escalão da administração pública. De acordo com o ministro da Justiça, Tarso Genro, houve conversas com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, com representantes do Ministério Público e com lideranças partidárias para facilitar a tramitação da proposição - que, entre outros pontos, endurece a punição para agentes públicos envolvidos em desvios e irregularidades, aumentando as penas previstas pelo Código Penal para crimes como corrupção ativa e passiva, peculato e concussão.