Jornal Correio Braziliense

Politica

Palanques aceleram posse no PT

Integrantes do partido negociam antecipar início do mandato dos eleitos para negociar alianças nos estados. Ideia ainda encontra resistência na cúpula, mas será decidida caso a caso

Parlamentares do PT negociam para antecipar a posse dos dirigentes vitoriosos em primeiro e segundo turnos no processo eleitoral direto (PED). A proposta encontra resistência na cúpula nacional que vê nela uma manobra para encurtar o mandato do presidente petista Ricardo Berzoini.

O deputado Geraldo Magela (PT-DF) disse que provocará o Diretório Nacional a decidir sobre a posse imediata dos dirigentes estaduais, municipais e nacionais eleitos no PED do último domingo e no segundo turno, marcado para 6 de dezembro. ;É preciso pensar no partido em todos os estados. Os dirigentes eleitos não vão poder trabalhar e os que estão no cargo já não trabalham mais porque estão de saída;, disse o parlamentar do Distrito Federal, que disputou a presidência do PT e ficou em terceiro lugar, atrás do ex-senador José Eduardo Dutra (SE) e do deputado José Eduardo Cardozo (SP).

A posse dos dirigentes nacionais está marcada para o congresso do PT, entre 18 e 21 de fevereiro. Nos estados, os dirigentes eleitos assumirão em março. A ideia tem boa aceitação nos diretórios regionais, mas é rejeitada no plano nacional. ;Já houve essa proposta no Diretório Nacional foi rejeitada. Se alguém recolocar essa proposta, o Diretório vai dar uma olhada;, disse Berzoini. E disse que se Dutra quiser, poderá negociar. ;Se o novo presidente pedir, a gente pode conversar;, emendou.

Segundo turno
A solução tem dois pesos e duas medidas. No plano nacional, a disputa foi lançada por um grupo minoritário. Nos estados, a antecipação atende aos interesses do antigo campo majoritário. No Ceará, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, eleita presidente estadual do partido, tomará posse antes do final do ano, numa composição local com o atual mandatário Ilário Marques. Há movimentos similares no Maranhão, Minas Gerais e Rio Janeiro.

[SAIBAMAIS]Em todos, a aliança PT e PMDB depende de quem será eleito dirigente em segundo turno. No Maranhão, a cúpula nacional petista quer eleger Raimundo Monteiro, favorável à aliança com a governadora Roseana Sarney (PMDB), contra Augusto Lobato. Os dois disputam o segundo turno. Em Minas, Gleber Naime disputa uma nova rodada de negociação contra o atual presidente regional Reginaldo Lopes. No Rio, Luiz Sérgio, pró-PMDB, disputará com Lourival Casula, que deseja ter candidato próprio. Nesses estados, a antecipação tem mais chance de ocorrer se os vitoriosos forem os grupos que trabalham de acordo com os interesses do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff.

;O PT funciona com regras, quando se tenta mudá-las dá curto circuito. O Dutra já está participando da mesa de negociação;, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), acrescentando que, nos estados, a solução deve ser pontual, caso a caso. O presidente nacional eleito já foi incluído nas negociações com o PMDB sobre a aliança em torno de Dilma.


E EU COM ISSO
Antecipar a posse dos dirigentes eleitos na disputa interna do PT atende, nos estados, aos interesses do grupo favorável a facilitar o acordo eleitoral com o PMDB. No plano nacional, além de ser vista como um braço de ferro pessoal com o atual presidente Ricardo Berzoini, a sugestão encontra pouca aceitação. O novo mandatário já atua informalmente no cargo, tem visão similar à de seu antecessor e, no fim das contas, terá papel secundário na campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Por trás dessa disputa, tem ainda um movimento para fortalecer o grupo mandante do PT, que terá 55% do novo diretório nacional.

Ouça trechos da entrevista com o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini: