O PMDB está incomodado. Em encontro com a cúpula do PT, os peemedebistas encarregados de viabilizar o acordo entre as legendas pediram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, se empenhem em estados onde persiste o impasse sobre a chapa que disputará a eleição do ano que vem.
Os peemedebistas viram cumplicidade de Lula com petistas dissidentes, pois o presidente admitiu que as divergências entre os partidos podem fazer com que Dilma tenha dois palanques regionais durante a campanha presidencial. Na avaliação de deputados do PMDB, essa posição desandou negociações em alguns estados que caminhavam para a solução, como o Rio de Janeiro, e para locais onde o acordo era complicado, mas não impossível, como Mato Grosso do Sul.
Em encontro de discussão sobre a aliança com o PT, a cúpula do PMDB pediu que Lula reforce o tom da necessidade de a legenda do presidente da República abrir mão de candidaturas próprias em prol do acordo nacional em torno de Dilma. Foram debatidos os impasses em Minas Gerais (veja mais na página 5), Ceará, Pará, Bahia e Pará, além do Rio e de Mato Grosso do Sul.
Desgaste
O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), voltou a afirmar aos petistas que não é ele o culpado pelo desgaste da aliança com o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). E disse não haver retorno de sua posição de se lançar ao governo local. Os petistas concordaram com Geddel e jogaram a toalha.
Assim como em Mato Grosso do Sul, a Bahia terá dois palanques para Dilma. O peemedebista baiano fez questão de enfatizar que trabalhará pela aliança nacional e pediu que, durante a corrida eleitoral, Lula e Dilma façam uma campanha equilibrada na Bahia. O PMDB quer que o exemplo baiano siga por outros estados onde a solução será dois palanques: com neutralidade do presidente Lula.
Negociações cautelosas
O PT defende a participação ativa, porém sem alarde, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra Dilma Rousseff nas conversas nos estados onde há impasse com os peemedebistas. O objetivo é levar as negociações com cautela para não contaminá-las com o clima acirrado das aspirações regionais.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, disse, no entanto, serem legítimos os pleitos de quem deseja ser candidato na eleição do ano que vem. ;Eles (Lula e Dilma) já têm participado, mas de maneira reservada para não atrapalhar qualquer tipo de conversação. Esse é um processo muito delicado porque envolve, em todos os estados da Federação, aspirações legítimas de pessoas que têm visões internas do processo. Quanto mais reservado, melhor para se alcançar um bom resultado;, diz.
Os petistas rechaçam a tese de cumplicidade de Lula com os dissidentes levantada pelos peemedebistas e dizem que o presidente constatou um fato em tom de lamentação: há petistas descompromissados com o projeto nacional de Dilma Rousseff. Eles citam o empenho em cima do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), para evitar que ele saia candidato ao governo do Rio de Janeiro contra Sérgio Cabral (PMDB).
O presidente do PT disse que não haverá intervenção em diretórios rebeldes que não seguirem a orientação nacional, mas lembrou que será o congresso partidário de fevereiro do ano que vem que tomará as decisões necessárias, e não os diretórios estaduais. ;No PT, não é a Presidência que define o rumo. Temos os fóruns e instâncias que são as ferramentas decisórias do partido. Quem vai decidir não será uma cúpula, que terá um papel importante, mas a base do partido;, afirmou. ;Temos uma instância democrática que pesa muito mais do que as instâncias dirigentes de cada estado: é a instância nacional, porque o nosso projeto é nacional;, frisou Berzoini.