A capacidade de o deputado federal Ciro Gomes (PSB-SP) se aliar tanto com parte da oposição como com petistas tem confundido o governo. Temendo que a candidatura do parlamentar tire votos da ministra Dilma Rousseff, o próprio presidente Lula tem se empenhado em tirá-lo da disputa presidencial. Para isso, ofereceu um palanque para ele na disputa pelo governo de São Paulo. Ontem, no entanto, as articulações governistas foram surpreendidas com dados da pesquisa CNT/Sensus. Os números mostram que, diferentemente do que previam, os eleitores de Ciro não migrariam para a candidata governista, mas para a opção tucana.
Apesar de ser desafeto do governador de São Paulo, José Serra, a saída de Ciro da disputa garantiria liderança folgada ao ex-ministro da Saúde. De acordo com a sondagem, Serra pularia de 31,8% para 40,5% na preferência do eleitorado se o socialista desistisse da disputa. Enquanto isso, a ministra Dilma seria beneficiada com um pequeno acréscimo de votos, de 21,7% para 23,5%. ;A análise mostra que os votos de Ciro não migram para o PT. A grande maioria seria repassada para a candidatura do PSDB;, afirma Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus.
O cenário já tinha sido comentado pelo presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), com o presidente Lula. No início do ano, Campos levou uma pesquisa ao presidente mostrando tal tendência. Com o reforço nessa sinalização, os tucanos já começam a fazer o trabalho, antes desempenhado pelo governo, de tentar barrar a candidatura do socialista. ;Não consideramos a possibilidade de o Ciro sair candidato. Acho que ele deve mesmo se lançar ao governo de São Paulo. Mas não tememos a opção dele. A única certeza é que ele provocaria um segundo turno e um candidato nosso estaria necessariamente na disputa até o fim;, analisa o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
Facetas
Enquanto pode, Ciro faz jogo duplo. Transferiu o título eleitoral para São Paulo numa demonstração de simpatia à ideia do presidente de lançá-lo governador. Ao mesmo tempo, sai em campanha pelo país, buscando apoio no curto espaço que a polarização entre PT e PSDB deixou, e costura uma possível aliança com Aécio Neves. ;Ele está chacoalhando o coqueiro para ver se cai um coco. Está buscando espaço entre os poucos que restam;, avalia o deputado federal Márcio França (PSB-SP).
Até março, o deputado do Ceará continuará transitando entre o melhor dos dois mundos. Aparecerá ao lado de Lula, como homem fiel ao presidente mais popular que o Brasil já teve, e não despertará antipatia no eleitorado petista. Na outra via, ampliará contatos com setores do PSDB que não simpatizam com Serra. O discurso será a despolarização das eleições. Sua candidatura teria a bandeira da renovação com garantia de continuidade.