Daniel Pereira
Denise Rothenburg
Tiago Pariz
O governo faz o mea-culpa, mas apenas internamente. Em reuniões reservadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros reconhecem que falharam na reação ao apagão que atingiu, na semana passada, 18 estados. Admitem, por exemplo, que não deveriam ter permitido ;chutômetro; sobre as causas do blecaute que afetou cerca de 60 milhões de brasileiros. Nem se envolvido num bate-boca com a oposição para saber qual gestão, se a petista ou a tucana, foi menos competente ao gerir o sistema elétrico do país. Segundo um dos ministros mais influentes do Planalto, houve erro de estratégia.
O correto seria a cúpula governista ; com Lula e a ministra Dilma Rousseff à frente ; sair a campo imediatamente, a fim de dialogar com a população. Leia-se: anunciar uma investigação rigorosa das causas da falta de luz e prometer medidas destinadas a aumentar a eficiência na geração e na transmissão. Ações nesse sentido serão divulgadas em breve. O ministro diz que elas tornarão a rede mais ;robusta; sem comprometer o preço da energia. ;Não era para discutir apagão com a oposição;, diz o ministro.
Apesar da declaração, Lula e auxiliares não pretendem deixar a queda de braço política. Em tom irônico, chegam a agradecer ao PSDB pela ideia de incluir o blecaute nas peças publicitárias que serão veiculadas em rede nacional. Para os governistas, a iniciativa dos tucanos reforça a estratégia de Lula de usar a comparação para eleger Dilma em 2010. ;É um tiro na cabeça do tucanato. Eles produziram um racionamento de oito meses. Nós superamos a crise;, diz o ministro.
Congresso
A bancada governista sente-se incomodada com as explicações desencontradas das autoridades a respeito do blecaute. ;O correto seria explicar tudo de forma transparente. Afinal, o cidadão paga seguro embutido na conta de energia;, diz o presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, Bernardo Ariston (PMDB-RJ).
A versão do Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre o derretimento de um isolador deixou os parlamentares da base para lá de constrangidos, em especial depois que o oposicionista José Carlos Aleluia (DEM-BA) saiu-se com esta: ;Um isolador é de porcelana, de polímeros, materiais resistentes. Não derrete;. ;É mais fácil a chuva derreter a cara de pau de quem deu essa explicação;, atacou Aleluia. Não houve tréplica governista.
Os partidos que apoiam Lula desejam que o governo dê logo uma explicação e mande os ministros ao Congresso para tirar o tema da pauta. A maioria dos aliados aposta que tal objetivo será atingido se os ministros apresentarem uma bom esclarecimento para o apagão. ;Não há falta de energia nem problemas de geração. Estamos melhores do que os tucanos;, diz o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).