São Paulo ; No dia em que a cidade de São Paulo ficou escura, o medo tomou conta da população. O trânsito caótico em todos os dias do ano virou um inferno com os semáforos desligados. Os carros aglomeravam-se nos cruzamentos e buzinavam sem parar. Como os trens do metrô pararam de funcionar, as entradas subterrâneas das estações despejavam um mar de gente na rua, que mais parecia um formigueiro. O tumulto nos pontos de ônibus foi inevitável.
A secretária Bernadete Santos Vilhena, 34 anos, saiu às 22h do escritório de advocacia em que trabalha, na Avenida Paulista. Ao tentar pegar o metrô para a Zona Norte, onde mora, recebeu a informação de que o transporte havia sido interrompido por falta de energia elétrica. Assim como ela, milhares de pessoas acreditavam que o fornecimento de energia fosse restabelecido logo e acabaram acampando do lado de fora das estações. ;Cheguei a cochilar na calçada. Só consegui ir para casa às 4h da manhã, quando passou o primeiro trem do dia;, reclama. No dia seguinte, às 9h, Bernadete já estava no batente.
Na Avenida Paulista, a luz sumiu por volta das 22h30. As calçadas largas dos dois lados da via ficaram tomadas por uma multidão. Apesar do policiamento ostensivo, ladrões se aproveitavam da confusão para roubar pessoas distraídas que andavam falando ao celular. O estudante Enrico Costa Neto, 23 anos, teve o telefone roubado por um grupo de adolescentes. Ele foi se queixar no posto policial mais próximo, mas os guardas disseram que não podiam fazer muita coisa por causa da falta de energia elétrica.
O cenário da Paulista ficava ainda mais assustador por causa das inúmeras sirenes que se ouvia o tempo todo. Ambulâncias, carros de bombeiros e viaturas policiais passavam de um lado para o outro em missão de emergência. Helicópteros faziam voos próximos dos arranha-céus na tentativa de pousar em heliportos. A sinfonia lembrava os filmes hollywoodianos que abordam o fim do mundo. ;Levei 20 minutos para atravessar a Paulista na esquina com a Rua Augusta;, conta o publicitário Daniel Moraes de Oliveira, 31 anos.
Elevadores
A maioria das ocorrências do Corpo de Bombeiros aconteceu em prédios em que havia pessoas presas nos elevadores. Foram 57 registros, no total, só na Grande São Paulo. No comércio, a falta de energia elétrica também gerou prejuízo, porque a maioria dos clientes paga a conta com cartões de débito e de crédito e as máquinas eletrônicas pararam de funcionar.
[SAIBAMAIS]Ontem, no fim da tarde, pelo menos 2,5 milhões de paulistanos ainda estavam sem água em São Paulo. O problema no abastecimento ocorreu porque a estação de tratamento teve maquinários desligados e danificados por causa do corte abrupto de energia elétrica. No momento do apagão, cerca de 20 milhões de pessoas ficaram sem água em todo o estado. A previsão é que o fornecimento seja restabelecido hoje até o meio-dia.
Minas e Pernambuco
Minas Gerais sofreu menos com o blecaute que em outros estados. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, 20% das casas ficaram sem luz, afetando cerca de 110 mil consumidores. Na capital, a luz voltou por volta das 23h. O diferencial em relação às regiões mais afetadas do país é que o estado é exportador de energia, ou seja, consome menos que o total produzido pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Furnas Centrais Elétricas e produtores independentes.
No entanto, o rápido restabelecimento da energia não significa que não houve prejuízos. Na fábrica da montadora Fiat, em Betim, por exemplo, 185 veículos deixaram de ser produzidos entre as 22h15 e as 23h de terça-feira.
Em Pernambuco, os impactos da falta de energia elétrica foram visíveis em boa parte das agências bancárias do Recife durante o dia de ontem. Em algumas delas, o sistema de operação de dados é interligado com cidades da Região Sudeste ; mais atingida pelo blecaute ; e a queda na transmissão de energia foi determinante para a paralisação de serviços básicos.
O estudante José Félix de Andrade Júnior, 29 anos, foi um dos correntistas atingidos pela pane. Surpreso com o problema, ele precisou fazer um depósito de R$ 1,5 mil para cobrir o pagamento do seguro do carro, mas somente hoje vai poder concluir a operação. ;Fiquei prejudicado e a solução é esperar até amanhã (hoje) para voltar à agência;, desabafou.
"Cheguei a cochilar na calçada. Só consegui ir para casa às 4h da manhã, quando passou o primeiro trem do dia"
Bernadete Santos Vilhena, secretária