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Politica

Aécio intensifica a pressão sobre o PSDB

Governador mineiro amplia articulação de bastidores para forçar o PSDB a definir ainda este ano o candidato tucano que vai disputar o Palácio do Planalto. Alguns aliados de José Serra insistem em protelar a escolha para 2010, mas outros já mostram sinais de desgaste

Tiago Pariz

Leonardo Augusto

Juliana Cipriani

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), tem uma estratégia ambiciosa para ser o candidato ao Palácio do Planalto na eleição do ano que vem. Ele vai intensificar conversas com partidos da base aliada do presidente Lula para arregimentar o maior número de partidos possível em torno de seu nome. E, na hora da decisão, pretende apresentar os apoios como cartas na manga para forçar o governador de São Paulo, José Serra(1), a desistir da corrida presidencial.


Aécio aposta que Serra seja incapaz de ter ao lado outros partidos além de DEM e PPS. O governador mineiro planeja conseguir fechar um compromisso de aliança com PP, PR e PDT até dezembro. A escolha de quem será o representante tucano se limitaria, segundo essa lógica, a uma simples matemática eleitoral. O plano de ataque é estimulado com a relutância de certos partidos governistas em dar oficialmente o sinal verde à candidatura da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

O grupo de Aécio não conta só com apoios oficiais. Quer trazer para seu lado alianças com setores do PMDB, que já tem acordo pré-eleitoral com a petista, e do PSB, que flerta com a possibilidade de lançar o deputado Ciro Gomes (CE). A conta dos tucanos é que esse ponto a favor da candidatura do mineiro seria perdido com a demora na definição por parte dos tucanos. ;Os movimentos nos estados e as conversas de bastidores estão consolidando um nome que agregue. Essa construção é fundamental. O PSDB precisa trazer para seu lado a base aliada e só o Aécio é capaz disso;, disse o secretário geral da legenda, deputado Rodrigo de Castro (MG).

Relutância
O governador mineiro tem batido na tecla da escolha imediata do candidato do partido à Presidência da República em 2010, porque desde o último encontro da legenda, em Goiânia, há duas semanas, tem sentido que seu concorrente interno na disputa está cada vez mais relutante em entrar na briga pelo Palácio do Planalto. De acordo com interlocutores tucanos, Serra estaria com receio de uma derrota para a ministra da Casa Civil, o que o deixaria sem a Presidência e sem o Palácio dos Bandeirantes.

Outra razão para a insistência de Aécio em definir o candidato rapidamente é porque, se a escolha for feita só no ano que vem, como pretende o grupo de Serra, o partido ficaria sem tempo para alianças. ;É natural essa postura do Aécio pela preocupação no sentido de buscar acordos, principalmente porque o tempo urge nessa questão. Os partidos estão se decidindo;, afirma o secretário nacional do PSDB, deputado federal Rodrigo de Castro.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que os últimos movimentos do governador mineiro fortaleceram-no na corrida pela indicação do partido. ;O Aécio está em franca campanha como nunca esteve antes. Ele está em franca preparação para ser candidato;, sustentou.

Para Serra, é interessante postergar a situação, pois ele teria mais ciência do quadro de possibilidades eleitorais e margem de manobra, caso decida tentar a reeleição ao governo de São Paulo. Já para Aécio, que nunca disputou eleição presidencial, o lançamento tardio poderia acabar com as chances de vitória. As constantes notícias de que o tucano mineiro poderia ser vice de Serra são, para os aliados, um desejo real do governador paulista. Na avaliação deles, a firmeza de Aécio ao dizer que se a decisão do PSDB não sair logo ele disputará o Senado é justamente para deixar claro a Serra que o mineiro não cogita essa possibilidade.

Aécio passou os dois últimos dias em Brasília, reunido com integrantes de partidos aliados. Além da conversa que teve com o presidente do DEM, Rodrigo Maia, terça-feira, o mineiro também conversou com integrantes do PMDB, PR, PV e PDT. Os partidos, aliados do presidente Lula, já manifestaram simpatia pela candidatura do governador mineiro à presidência.


1 - Personalidade paulista
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), voltou a lançar farpas contra o governador de São Paulo, José Serra. Em conversa com dois aliados na Câmara, o dirigente democrata reclamou da repercussão negativa que tiveram com o grupo de Serra suas declarações pró-Aécio. Segundo ele, isso seria uma característica da personalidade paulista. Maia disse que tem todo o direito de dar opinião no processo de sucessão. Segundo ele afirmou aos aliados, não há racha no partido. Se o escolhido for o governador paulista, sustenta, o DEM o apoiará por aclamação. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), encontrou-se ontem com Maia para diminuir a tensão com os dois partidos.

"É natural essa postura do Aécio pela preocupação no sentido de buscar acordos, principalmente porque o tempo urge nessa questão dos apoiadores. Os partidos já estão se decidindo"
Rodrigo de Castro, secretário nacional do PSDB