Autor do projeto do Aeroporto de Brasília, o arquiteto Sérgio Parada reagiu à declaração do diretor interino de Operações e Engenharia da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), João Jordão, de que a sua concepção seria ;antiga; e ;ineficaz;. Em vez de completar o projeto, construindo o satélite Sul, a estatal vai ampliar o terminal de passageiros utilizando um novo modelo.
;O projeto não é desatualizado. Ele segue a tendência dos aeroportos mais modernos do mundo. A questão é que ele foi feito em 1990, para estar concluído no fim da década de 90. A sua capacidade máxima de operação (oito milhões de passageiros), com o terminal completo, seria atingida em 2008. Mas até hoje a segunda etapa ; o satélite Sul ; não foi feita. O projeto não tem que ser mudado, tem que ser concluído. Depois, então, deve ser feito um segundo terminal, porque já atingimos o volume de 11 milhões de passageiros em 2007;, disse Parada.
O diretor da Infraero reabriu a polêmica, em entrevista ao Correio, ao tentar explicar por que a data de conclusão das obras no aeroporto de Brasília foi adiada de 2010 para 2013, apenas um ano antes da realização do Mundial de 2014. ;Sim, nós tivemos uma mudança na concepção do projeto, que previa mais um terminal satélite. Esta é uma concepção antiga. Outros países que tinham esse projeto estão mudando, porque ele não se mostrou eficaz e não atende satisfatoriamente ao nível de conforto esperado. Então, isso acaba gerando um atraso (nas obras), mas o aeroporto estará pronto para a Copa do Mundo;, assegurou João Jordão.
No início do ano, Parada e a Infraero haviam debatido publicamente sobre a mudança do projeto de arquitetura do aeroporto. A estatal afirmou que não abriu um novo debate sobre o tema. Teria apenas reiterado um posicionamento já manifestado ao jornal em fevereiro deste ano.
;Puxadinho;
Parada disse que a Infraero estaria usando a desculpa da mudança de modelo para justificar o atraso na obra. ;Após 19 anos, ainda falta a construção do satélite Sul. Agora, querem juntar um prédio no outro, fazer um puxadinho. Falam que o projeto original não proporciona conforto. Mas ele atende a uma demanda maior do que a capacidade projetada pela Infraero. Isso demonstra que o projeto arquitetônico é compatível.; Como autor da proposta, ele lamenta a alteração do seu projeto: ;No Brasil, não há respeito à obra de arquitetura nem aos arquitetos autores dos edifícios;.
A Infraero argumentou, em fevereiro, que um aeroporto é um organismo dinâmico. Novas obras e reformas são necessárias para acompanhar o crescimento do volume de passageiros. Embora não estando entre os três maiores aeroportos do país, o de Brasília é o segundo em voos. A estatal lembra que o projeto atual foi concebido em 1990. A primeira etapa da obra foi entregue em 1996, com a construção do satélite Norte e a ampliação de dois terços do corpo central do antigo terminal. Na segunda etapa, encerrada em 2003, foi concluído o corpo central do terminal de passageiros.
Meta é atender 20 milhões de passageiros
O objetivo da atual reforma é atender a uma demanda de 20 milhões de passageiros. Segundo a Infraero, a construção do satélite Norte criaria apenas sete novas pontes de embarque, quando o necessário são 26. A empresa rejeita a hipótese de fazer um segundo terminal, separado e distante do atual. Sérgio Parada afirma que a comunicação entre os terminais seria resolvida com a construção de túneis e passarelas, como acontece nos grandes aeroportos do mundo.
Segundo a Infraero, concepções arquitetônicas que já foram de funcionalidade incontestável mostram-se, hoje, inadequadas. ;Como em 1990, quando o partido arquitetônico da década de 70 foi abandonado em benefício de uma tendência internacional da época, os dias atuais orientam para um novo modelo. No entanto, escravizar o futuro a paradigmas do passado não parece ser a opção mais inteligente. No transporte aéreo, a evolução tecnológica desenvolve-se em velocidade vertiginosa e os aeroportos também devem se atualizar no mesmo ritmo. Ressalto que a Infraero não pode perder de vista as necessidades do passageiro, nosso foco principal, e que sobrepor a forma à funcionalidade seria descabível;, escreveu o então presidene da Infraero, Celonilson Nicácio Silva, nas páginas de Opinião do Correio, em 28 de fevereiro deste ano.