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Congresso: antigos caciques, velha intimidação

Renan e Collor partem para a defesa de Sarney. Estratégia é uma ameaça a adversários: peemedebista não cairá sozinho

Convencidos de que toda a crise do Senado tem como pano de fundo o fato de que o PMDB tem uma perspectiva de poder ainda maior já em 2010, os senadores que comandam o partido voltaram das férias dispostos a tudo para manter José Sarney na Presidência da Casa. O primeiro ato foi colocar uma dupla de calejados personagens ; os alagoanos Renan Calheiros (PMDB) e Fernando Collor (PTB) ;, que já passaram por massacres no passado, entrincheirados no plenário para enfrentar o senador Pedro Simon (PMDB-RS) e defender Sarney.

Collor, geralmente calado e cordato, chegou ao plenário esbaforido. Quem o acompanhou nos tempos da campanha presidencial de 1989 e assistiu de camarote aos dois anos dele como presidente da República pensou, por alguns instantes, que havia entrado num túnel do tempo. Não fosse os cabelos grisalhos do ex-presidente da República e a defesa apaixonada de Sarney ; a quem Collor chamou de corrupto no passado ;, ninguém suspeitaria que haviam se passado 20 anos, dado o tom de voz e os olhos brilhantes do petebista, que usou o mesmo tom ríspido que caracterizou a sua campanha presidencial.

Collor estava no gabinete quando ouviu Simon, irritado, falar seu nome na tribuna. O primeiro bate-boca da tarde foi protagonizado entre o peemedebista gaúcho e Renan, que quis saber do colega por que ele pregava o afastamento de Sarney ; e chegou a insinuar que era inveja antiga porque Sarney foi vice de Tancredo Neves. Simon ficou furioso e reagiu, lembrando os tempos de Collor ao afirmar que a candidatura collorida teria sido gestada na China com a participação de Renan.

;Invencionices;
Ao entrar em cena, Collor chegou ao plenário ofegante: ;O senhor falou palavras que não aceito. Quero que o senhor engula-a e digira-a da forma como julgar conveniente;, disse Collor, usando expressões pouco usuais no dia-a-dia, como ;hebdommadários brasileiros;, para se referir às revistas e jornais que, no passado, contaram o episódio chinês. ;Aquilo foi invencionice;, disse Collor, para, em seguida defender Sarney, ;como um homem que cumpriu a transição democrática com grandeza e maestria;.

Collor continuou: ;Estou do lado de Renan e do presidente Sarney. Esta Casa não pode se agachar. Não pode e não deve se agachar ao que parte da mídia deseja. Ela não conseguirá tirar o presidente Sarney desta cadeira. E nem o senhor deblaterando, parlapatão que é desta tribuna. Evite pronunciar meu nome, senão serei obrigado a trazer aqui coisas que não gostaria;, disse Collor, fazendo ameaças veladas a Simon.

Mais tarde, foi a vez do senador Wellington Salgado (PMDB-MG) bater boca com Cristovam Buarque (PDT-DF) ; um dos únicos a defender Simon ;, citando os tempos em que o parlamentar do Distrito Federal foi chefe de gabinete do então ministro da Justiça Fernando Lyra e tinha sido nomeado por Sarney. Tucanos, democratas e petistas ficaram de fora da briga, como espectadores apáticos.

[SAIBAMAIS]A ordem entre os peemedebistas e petebistas é mesmo de guerra com quem se colocar contra Sarney. O raciocínio de todos é o de que Sarney ocupará a Presidência da República em 2010, quando o presidente Lula começará a se dedicar mais ao seu projeto internacional, o vice José Alencar (PRB), se a saúde permitir, concorrerá ao Senado em Minas Gerais e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), será candidato a algum cargo eletivo.

O próximo dessa fila seria o presidente do Senado. E o PMDB quer que esse nome seja Sarney. Até porque são 16 senadores candidatos do partido em campanha. E nada melhor do que um posto avançado no Planalto para dar aquela força. Essa é a disposição com a qual os peemedebistas voltaram das férias e se o fôlego não mudar, é assim que eles pretendem enfrentar a crise. Armados e com a Presidência da Casa nas mãos. Falta combinar com todos os outros atores dessa história.

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; As armas de cada um

Confira o comportamento dos principais opositores ao discurso de Pedro Simon

Fernando Collor: rispidez
Testa enrugada e olhos afiados. Semblante rijo e fixo ao assistir o discurso do senador Pedro Simon (PMDB-RS). O político alagoano adotou uma posição de ataque. Falou ríspido e usou palavras duras. O nervosismo era tão latente que a voz embargou durante discurso em que intimidou o colega gaúcho. Collor mal se mexeu na cadeira, retirava o olhar de Simon somente quando piscava. Mesmo quando outros senadores discursaram do plenário, ele manteve-se entrincheirado, com o gaúcho em sua mira. Depois do discurso, tomou um chá.


Renan Calheiros: sarcasmo
O líder do PMDB no Senado preferiu uma postura mais debochada, ficou sério em alguns momentos, sobretudo quando se defendia das palavras de Pedro Simon. Quando a tática era do ataque, Renan era sarcástico, em contraste com a fisionomia de Collor. Quando o líder do PSDB, Arthur Virgílio, manifestou-se a favor do senador gaúcho, Renan deu risada. No momento em que Collor soltava farpas contra Pedro Simon, Renan gargalhou de um comentário do senador tucano Papaléo Paes (AP).

Wellington Salgado: cobrança
O senador do PMDB de Minas Gerais funcionou como o tripé de ataques da tropa de choque do presidente do Senado, José Sarney (AP). Mas teve comportamento mais comedido do que o dos outros dois colegas. Amado ou odiado pelos parlamentares, como ele mesmo diz, Salgado perdeu a compostura e elevou o tom de voz para atacar e cobrar coerência nas posições de Pedro Simon e de Cristovam Buarque (PDT-DF). Com Renan e Collor na linha de frente, limitou-se a ser um mero zagueiro.