Apontado no relatório da Comissão de Sindicância da Câmara como integrante de um esquema de comercialização de cotas de passagens aéreas de deputados, o agente de turismo Vagdar Fortunato Ferreira admitiu que utilizava créditos de parlamentares para emitir livremente bilhetes a clientes que buscassem os serviços. O dono da agência Polo Turismo, que há quase uma década atua no Congresso Nacional, disse que ganhava comissão de 10% em algumas transações, mas negou que houvesse uma negociação escusa com as cotas. No documento final elaborado pela comissão, Ferreira é citado como ;pessoa vinculada ao comércio de MCOs (créditos) de parlamentares, adquirindo-os com deságio (preço menor) para usá-los no custeio de passagens emitidas por sua agência;. Mas, segundo ele, na verdade tratava-se de uma permuta. ;Eu não comprava créditos com deságio. Fazia negócios com os gabinetes, mas não com dinheiro. Fazia permuta com passagens;, disse Ferreira. ;Eu ganhava comissão com a venda do bilhete quando fazia a permuta;, completou.
O agente ficou conhecido por gente que não frequenta os corredores do Congresso em abril, quando a comissão (1)foi instaurada na Câmara para apurar suspeitas de irregularidades com as sobras dos créditos a que os parlamentares têm direito. Segundo o relatório, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro Eros Grau, também integrante da Corte, teriam sido vítimas do esquema: a origem das passagens usadas por eles foi de cotas de deputados.
A sindicância concluiu que Ferreira emitiu bilhetes para Mendes e a mulher dele, Guiomar, depois de comercializar os créditos dos deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e Fernando Coruja (PDT-SC) com Paulo César Pereira de Medeiros, da agência Mania Tour, onde o magistrado comprou as passagens para Nova York. A intermediação, de acordo com o documento, foi feita pelos servidores dos gabinetes Luiz Gustavo Nogueira e Arquísio Bites Leão Leite. Em entrevista ao Correio, o dono da Polo Turismo disse não saber para quem o bilhete foi emitido. ;Eu não sabia que a passagem era para ele (Gilmar Mendes). Fiquei sabendo depois;, declarou.
A primeira vez que o nome de Ferreira surgiu na investigação foi por meio da ex-servidora Rosimere Gomes da Silva. Em depoimento à comissão, ela afirmou que, desde 2007, vendia mensalmente a ele créditos da cota do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI). Segundo ela, o volume total movimentado seria de R$ 118 mil no período. O agente admitiu ter feito negócios com a ex-servidora, mas negou que houvesse dinheiro envolvido ou vantagens para ambos os lados. ;Gostaria de falar com ela para que me explicasse porque disse essas coisas. Desde que me acusou, está sumida. Ninguém consegue falar com ela;, declarou. ;Os deputados deveriam usar livremente a cota aérea;, defendeu ele.
Outro nome citado no relatório foi o do empresário Pedro Damião Pinto Rabelo, dono da agência de viagens Morena Turismo. Ao ser ouvido pela comissão, de acordo com o relatório, ele declarou que adquiria créditos com desconto e repassava a terceiros a preços de mercado. Rabelo, no entanto, evitou dizer quais seriam os gabinetes de deputados que participariam das negociações.
1 - SUSPEITAS
Criada em 17 de abril, a comissão de sindicância da Câmara dos Deputados investigou a suspeita de comércio ilegal da cota mensal de passagens aéreas de parlamentares. A principal suspeita é que sobras dos créditos seriam vendidas irregularmente a agências de viagens, que, por sua vez, as revenderiam para clientes. A apuração teve início depois que a diretoria-geral do Supremo Tribunal Federal (STF) notificou a Casa sobre a descoberta de que dois ministros teriam sido vítimas do esquema: Gilmar Mendes, que preside a Corte, e Eros Grau. O resultado do trabalho foi encaminhado para o Ministério Público Federal no DF, onde um inquérito foi aberto para investigar se houve improbidade administrativa por parte de parlamentares e servidores. <--
--> <--
--> <-- --> <--
--> <-- -->
Personagem da notícia
Sem perder os clientes
<--
--> <--
--> <--
--> <-- -->
Vagdar Fortunato Ferreira, 38 anos, começou como funcionário de uma agência de turismo que operava no Senado antes de abrir a própria empresa em 2000. Os quatro anos de experiência e os clientes acumulados o estimularam na empreitada. Ferreira afirma que sua empresa hoje tem faturamento mensal de R$ 40 mil, mas evita falar em negócio lucrativo.
Apesar de ser figura carimbada no Congresso, sobretudo entre servidores da Câmara, ele passou a frequentar as notícias ao ser apontado como o agente que usou créditos de deputados para emitir passagem ao exterior para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Ele disse que, apesar disso, a empresa que mantém em Brasília não foi afetada e não perdeu clientes. A preocupação, pelo que diz, é virar bode expiatório num episódio que envolve servidores lotados em 40 gabinetes e cinco deputados suspeitos de se beneficiarem com o mercado paralelo do comércio de passagens.