A direção do PT vai tentar negociar uma trégua com a bancada do partido no Senado em torno da permanência do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), no cargo. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), deve convocar uma reunião com os senadores petistas na semana que vem e defender que não é papel da bancada discutir a saída ou afastamento de Sarney.
Segundo interlocutores, a avaliação de Berzoini é que, como o PT não apoiou a candidatura do peemedebista ao comando do Senado, não tem responsabilidade pelas ações dele no cargo.
O presidente do PT teria dito que foi surpreendido com a nota divulgada pelo líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), por acreditar que não existem novos motivos para pressionar o peemedebista. No documento, Mercadante afirmou que a divulgação das gravações da Polícia Federal que indicariam envolvimento de Sarney na negociação da contratação do namorado da neta era "grave, porque há indícios concretos da associação do peemedebista com atos secretos".
Para a direção do PT, a nota foi precipitada. Alguns senadores petistas disseram à Folha Online que a iniciativa de Mercadante foi isolada, apesar de representar o posicionamento defendido pela bancada no início do mês. O líder do PT não foi localizado pela reportagem.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) afirmou, no entanto, que se houvesse a consulta, pelo menos seis ou sete senadores apoiariam o texto. "Temos defendido essa questão publicamente. Não podemos negar que é preciso que o presidente do Senado se afaste para dar credibilidade às investigações e até para oxigenar os trabalhos da Casa", disse.
Suplicy conversou na sexta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o afastamento de Sarney, mas não conseguiu reverter o apoio do governo a manutenção de Sarney na presidência do Senado. O governo está preocupado com a governabilidade, com a CPI da Petrobras e com o apoio do PMDB nas eleições de 2010.
O senador petista chegou a comentar com o presidente Lula que uma conversa que teve semanas atrás com o vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), na qual o tucano se comprometeu, no caso de um afastamento de Sarney, comandar o Senado sem prejuízos para o governo. "O presidente ficou de refletir sobre o assunto", disse.
A nota de Mercadante gerou mal-estar no governo. O ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) disse hoje que o governo manteria o apoio a Sarney e afirmou que o governo avaliaria a nota de Mercadante para saber se tinha o aval da bancada. "O que nós avaliamos é que isso não é um movimento do PT. Nós imaginamos que seja o posicionamento de um ou dois senadores", afirmou.