Pesquisa recente produzida pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) revela que o potencial eleitoral do Bolsa Família supera de longe o efeito do desempenho da economia.
Segundo o trabalho, o programa respondeu pelo aumento de aproximadamente 3 pontos percentuais na votação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições de 2006 marca superior ao impacto da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) soma das riquezas produzidas no país de 0,34 ponto percentual.
Além disso, sustenta o economista Maurício Canêdo, da FGV, em 2002, Lula foi bem-sucedido em regiões mais urbanizadas e desenvolvidas do país. Em 2006, a base eleitoral migrou para regiões menos desenvolvidas. São as regiões mais dependentes do Estado e mais beneficiadas pelo Bolsa Família, programa lançado pelo governo em 2004, que atende a mais de 12 milhões de famílias em todos os municípios brasileiros.
Apesar disso, nem o Bolsa Família, nem o desempenho econômico explicam toda ou boa parte da migração do eleitorado do presidente Lula para as cidades mais pobres, afirma Canêdo.
Na elaboração do trabalho, o pesquisador consultou dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para as variáveis eleitorais; o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para as variáveis geográficas, demográficas e socioeconômicas; e o Ministério do Desenvolvimento Social, para informações sobre a cobertura do programa.
Segundo o estudo, o aumento de 1 ponto percentual no número de beneficiários do programa elevou em 0,55 ponto percentual a votação de Lula em 2006, enquanto a mesma variação na taxa de crescimento econômico incrementou a votação em apenas 0,21 ponto percentual. O efeito do Bolsa Família fez a votação de Lula crescer em todos os municípios, mas o aumento foi maior justamente naqueles em que o seu desempenho foi pior em 2002.
Em 2002 e em 2006, Lula ficou com aproximadamente 61% dos votos no segundo turno. Mas seu eleitorado, que tradicionalmente se concentrava nas regiões urbanas, migrou para as áreas mais pobres em 2006. No entanto, o Bolsa Família explica apenas parte dessa mudança, diz Canêdo.
Nas regiões Norte e Nordeste, o efeito do programa ficou acima do registrado nos demais estados do pais. Em Alagoas, por exemplo, o Bolsa Família aumentou em 8,17 pontos percentuais a votação de Lula, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, o incremento foi de 1,12 e 1,89 pontos percentuais respectivamente Alagoas foi o estado onde o efeito do Bolsa Família mais contribuiu para a votação, seguido de Roraima (6,85%) e do Acre (6,53%).
O que explicaria a mudança no padrão de votação de Lula?, indaga o pesquisador. De acordo com ele, embora não seja capaz de responder definitivamente a essa pergunta, a pesquisa indica rumos. Nos municípios mais ricos, possivelmente, uma das causas na piora do desempenho eleitoral de Lula é a frustração de seu eleitorado habitual com os escândalos ocorridos durante o primeiro mandato. Nos municípios mais pobres, o aumento da votação de Lula pode ser resultado do fato identificado por alguns cientistas políticos de que os eleitores dos municípios menos desenvolvidos, mais dependentes do Estado, seriam mais propensos a votar no candidato do governo.