Apontado como o principal motivo do agravamento da crise em torno do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Henrique Dias Bernardes, 27, namorado da neta do peemedebista, sustenta que não vê ilegalidade na interferência de Sarney em sua contratação na Casa Legislativa.
Nomeado por ato secreto para um cargo na Diretoria Geral, Bernardes foi deslocado para a área administrativa no serviço médico do Senado. Por lá, ele diz que trabalha oito horas diárias e não demonstra constrangimento com a divulgação dos áudios da Polícia Federal que indicariam que o presidente do Senado negociou sua contratação.
"Todos os parlamentares têm direito a cargos comissionados. São para pessoas de confiança. Não tenho parentesco com ninguém. Nem de terceiro grau. Não há ato ilícito nenhum", disse em entrevista à Folha Online.
O servidor afirmou que não pensa em deixar o trabalho na direção da SAMS (Secretaria de Assistência Médica e Social do Senado).
Sem querer comentar a ligação com Maria Beatriz Sarney, neta do presidente do Senado, Bernardes disse que não conquistou o cargo só pela indicação do peemedebista, mas também pelo currículo. Pessoas próximas a Bernardes dizem que o namoro terminou.
Formado em física e pós-graduado em contabilidade e economia na UNB (Universidade de Brasília), ele acredita que é gabaritado para a função.
"Sou um profissional altamente preparado, tanto por conta da minha formação universitária como da minha pós-graduação. Além disso, tenho experiência na iniciativa privada, como gerente administrativo e financeiro. Para a Casa, é bom ter um funcionário como eu", afirmou. A tranquilidade de Bernardes com a indicação política é partilhada por outros servidores do Senado. Durante a entrevista, um médico esteve na sala da direção e se solidarizou com ele. Abraçou-o e falou para não ter vergonha de nada, que todo mundo foi indicado por alguém.
"Presto meu serviço com muita competência e excelência. Sou assíduo, trabalho todos os dias. Pode perguntar. Todos vão falar bem de mim", afirmou. O diretor da SAMS, o médico Paulo Ramalho, disse que não tem nenhuma queixa contra o funcionário. "Ele faz seu trabalho direitinho." A contratação de Bernardes complicou a situação de Sarney. O PSDB vai apresentar uma representação contra o peemedebista no Conselho de Ética pela interferência a favor da nomeação dele. O DEM também discute uma representação pelo mesmo motivo. O PT defendeu o afastamento de Sarney e considerou "graves" as acusações.
Diretoria Geral da Casa informou que o servidor deve ser demitido. Bernardes é um dos 218 funcionários identificados pela comissão que foi criada por Sarney para analisar a anulação dos atos secretos.
A expectativa é que ele seja exonerado com os outros servidores em até 20 dias, quando termina o prazo para que a comissão conclua os trabalhos e apresente um relatório final com recomendações sobre a revogação das decisões administrativas que foram mantidas em sigilo nos últimos 14 anos.
A demissão depende do cruzamento de dados da lista de atos secretos com os diários do Senado. Nesta semana, a diretoria geral identificou que, das 663 decisões administrativas mantidas em sigilo, 152 cumpriram parte das exigências constitucionais. Caso a nomeação de Bernardes seja apontada como correta, a exoneração dependerá do diretor-geral Haroldo Tajra.