O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), entregou nesta quarta-feira (22), com festa, 448 apartamentos em quatro conjuntos habitacionais de Guaianazes, extremo leste da Capital. Música popular, piadas futebolísticas e distribuição gratuita de lanches não acalmaram reclamações dos moradores sobre a falta de água e de energia elétricas em um dos conjuntos de prédios - justamente o visitado pelo governador. Nele, há 168 unidades, sendo que 43 já estavam ocupadas antes mesmo da entrega oficial das chaves. No apartamento visitado por Serra, havia luz, mas, no corredor do prédio, não.
Um homem tentou falar com Serra sobre a situação, mas foi afastado com um forte empurrão pelos seguranças do governador. "Nós ajudamos a construir esses prédios. É falta de respeito não nos ouvir", disse Raimundo, que pediu para não ter seu sobrenome revelado. Serra enfrentou protesto também ao deixar o terreno. Pelo menos dez moradores empunhavam cartazes e pediam atenção ao bairro gritando "faixa de pedestres". A comitiva do governador passou reto pelos manifestantes. "Tem uma escola sem faixa de pedestres para as crianças atravessarem a rua", contou o educador Isac Lopes, de 44 anos. "Quando vem autoridade aqui é que eles resolvem enfeitar o bairro.
[SAIBAMAIS]A construção do conjunto habitacional de Guaianazes levou sete anos. As famílias beneficiadas pela obra ajudaram a erguer os prédios em sistema de mutirão. Entidades de fim sociais indicaram os moradores, contrataram assistência técnica e mão-de-obra e coordenaram os trabalhos. Os prédios ficam em uma área isolada, quase rural, do bairro, que só há poucos meses ganhou ruas asfaltadas. Para evitar invasões do terreno, famílias foram morar nas unidades inacabadas há pelo menos dois anos.
O diretor de obras da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), João Abukater Neto, disse que, durante a construção dos edifícios, havia ligações "provisórias" de energia elétrica. Elas foram desligadas e, aos poucos, a Eletropaulo faria a ligação dos apartamentos, um por um, até o final desta semana. "Começou agora o processo de reversão. Se você voltar sexta ou sábado, não tem mais nenhum (apartamento sem luz)", disse Abukater Neto.
Serra foi questionado sobre o problema durante entrevista coletiva, mas pediu que o secretário estadual de Habitação, Lair Kr;henbühl, respondesse à pergunta. Lair admitiu que os prédios entregues hoje estavam sem água e energia, mas disse que a maioria das famílias só mudaria para lá na próxima semana e que as que já moravam nas unidades usavam as ligações "provisórias". Mais tarde, Lair esclareceu que o fornecimento de energia elétrica depende da assinatura do contrato do apartamento, o que aconteceu hoje. "O prédio está ligado, mas a liberação individual é feita caso a caso", disse o secretário. "Leva um dia ou dois após a assinatura do contrato." Lair atribui as reclamações dos moradores a uma "questão de esclarecimento".