Uma operação policial para prisão de um suspeito de tráfico de drogas transformou-se em mais um constrangimento político para o governo de Yeda Crusius (PSDB) no Rio Grande do Sul. Ingredientes como a participação do chefe de gabinete do Palácio Piratini, Ricardo Lied, e tentativa de vazamento de informações durante a ação policial levaram a corregedoria da Polícia Civil a investigar o caso. A bancada do PT na Assembleia Legislativa anunciou que vai encaminhar pedidos de explicações à Secretaria da Transparência e de providências ao Ministério Público de Contas na quarta-feira.
A episódio foi tornado público pelo presidente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS), Sérgio Buchmann. Em entrevistas à imprensa, ele contou que na noite de terça-feira passada recebeu a visita de Lied, acompanhado de policiais do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) no portão do edifício onde mora. Segundo Buchmann, seus interlocutores teriam lhe dado a notícia de que seu filho Fábio, de 26 anos, seria preso por tráfico de drogas, e sugerido que o rapaz fosse avisado. O presidente do Detran respondeu que não interferiria no trabalho da polícia. Também temeu estar sendo vítima de uma cilada. Se telefonasse, poderia ser acusado de usar seu cargo para beneficiar um familiar. "Estou sangrando por dentro, expondo uma tragédia familiar, mas entendo que, como homem público, não posso esconder nada", revelou ao jornal "Zero Hora".
É a segunda vez no ano que Lied fica na mira da oposição. Em março, a divulgação de trechos de conversas ouvidas pelo Ministério Público, com autorização da Justiça, na apuração de irregularidades eleitorais em Lajeado mostrou o chefe de gabinete de Yeda informando um dos investigados que nada constava na ficha policial do candidato do PT à prefeitura, Luiz Fernando Schmidt, o que, segundo a bancada do PT, seria um indício de que ele teria violado o sistema integrado de informações da polícia para bisbilhotar adversários políticos.
Lied não deu entrevistas para explicar o caso. À corregedoria da Polícia, disse que foi procurado pela polícia para ajudar a localizar o suspeito. Os policiais alegaram que houve um mal entendido. Eles teriam deduzido que o filho - que é do primeiro casamento, tem uma relação distante e não vive com o pai - morava no endereço de Buchmann. Fabio foi preso poucas horas depois da visita de Lied e agentes policiais ao presidente do Detran, em seu próprio endereço.