A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) gastou com cartões corporativos em 30 meses quase o dobro das despesas feitas durante os três primeiros anos do atual governo. Entre janeiro de 2007 e junho passado, as movimentações atingiram R$ 21 milhões, uma média de R$ 700 mil a cada 30 dias, enquanto que, de 2004 a 2006, os valores chegaram a R$ 13 milhões, ou R$ 363 mil mensais. Apesar disso, no primeiro semestre de 2009, os gastos da Abin foram menores que em outros períodos.
Criada em 1995 para substituir a extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), que por sua vez sucedeu o Serviço Nacional de Informações (SNI), a Abin sempre foi problemática, principalmente em relação a seus métodos de trabalho. Porém, seus gastos nunca foram contestados por serem secretos, assim como os da Presidência da República e da Polícia Federal. Normalmente, o cartão corporativo da instituição é usado em missões de inteligência dentro e fora do país e até para pagamentos de terceiros, inclusive informantes.
No primeiro semestre deste ano, a Abin gastou R$ 2,9 milhões com cartões corporativos. É menos da metade do que foram os valores de 2008, que totalizaram R$ 6,6 milhões. No ano anterior, as despesas feitas por essa forma de pagamento chegaram a R$ 11,6 milhões. Os números de 2007 são os maiores, até hoje, em todo o tempo de existência da corporação. Segundo fontes da Abin, o volume de recursos usado há dois anos tinha como objetivo as ações de inteligência durante os Jogos Panamericanos, no Rio de Janeiro.
Nos três primeiros anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os gastos da agência foram bem menores se comparados aos 30 últimos meses. Em 2004, a Abin fez despesas com cartões corporativos de R$ 2,2 milhões. Porém, um ano depois os recursos movimentados cresceram mais que o dobro: R$ 5,2 milhões. Em 2006, os valores ficaram pouco acima: R$ 5,6 milhões. Com isso, a média mensal das despesas foi de R$ 363 mil, que é como se um agente de informações gastasse R$ 12 mil diários.
Com a ida do delegado aposentado Paulo Lacerda para a Abin, em setembro de 2007, o perfil do serviço secreto brasileiro foi modificado, segundo fontes da corporação. Lacerda, que havia sido diretor da Polícia Federal antes de assumir o posto, decidiu investir na atividade fim da instituição, que é o serviço de inteligência, principalmente pela falta de recursos da Abin. Nesse período, a instituição teve cortes orçamentários de 30%. Setores da área de informações do governo afirmam que isso causou um aumento nas despesas feitas com cartão corporativo. Ele deixou o cargo (1) em dezembro do ano passado.
Nos últimos 30 meses os gastos com cartão corporativo pela área de informações do governo ficou estável em outros órgãos. O Centro de Inteligência da Marinha (Cenimar) gastou R$ 33 mil este ano, enquanto que em 2009 o Exército (Ciex) consumiu R$ 4 mil, o mesmo valor do ano passado. Os dados existentes no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a Polícia Federal não fazem a descrição das despesas por setor.
1 SAÍDA CONTURBADA
Paulo Lacerda deixou a Abin em dezembro de 2008, depois de ter sido afastado das funções por causa da presença da corporação nas investigações da Operação Satiagraha. Ele foi acusado de ter cedido agentes para a PF, o que foi confirmado depois. Entretanto, o Ministério Público não identificou ilegalidades na participação dos arapongas. Aposentado, o delegado hoje é adido policial na embaixada do Brasil em Portugal.
Os gastos da ABIN
O volume de despesas
com cartão corporativo
da Abin começou a crescer em 2005, evoluindo a cada ano. Porém, em 2009 os gastos são menores e deverão terminar o ano abaixo de 2008. Os número são os seguintes:
Ano - Despesas (em milhões)
2004 R$ 2,2
2005 R$ 5,2
2006 R$ 5,6
2007 R$ 11,6
2008 R$ 6,6
2009 R$ 2,9 (*)
* Até junho
Fonte: Portal da Transparência da CGU