À frente da operação de blindagem ao senador José Sarney (AP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva moverá mais uma peça a fim de garantir o apoio do PMDB à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Em conversa com o presidente da Câmara, o peemedebista Michel Temer (SP), Lula disse que incluirá um ministro filiado ao partido na chamada coordenação política, grupo responsável por discutir as estratégias e os projetos do governo. O presidente sugeriu o nome do titular da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, cotado para o posto de vice na chapa a ser encabeçada pela ;mãe do PAC;.
Geddel é deputado licenciado. Faz parte da ala do PMDB da Câmara, que disputa com o plantel de senadores o controle interno da legenda e o direito de capitanear as negociações com o Palácio do Planalto. Ciente da rixa interna, Temer propôs a Lula que um ministro ligado aos senadores peemedebistas também ganhe um assento no colegiado. No caso, Edison Lobão, titular de Minas e Energia e um dos generais do exército chefiado por Sarney. O gesto de Temer não foi à toa. O deputado tem uma relação harmoniosa com Sarney desde que assumiram, em fevereiro, a Câmara e o Senado. Os dois marcham juntos em assuntos internos do Legislativo e nas discussões com Lula sobre 2010.
Também cotado para vice de Dilma, Temer trabalha a fim de preservar essa espécie de armistício. Empenha-se, inclusive, nos esforços destinados a proteger Sarney da crise administrativa que fustiga os calcanhares do senador. Age assim por temer que o líder Renan Calheiros (AL) reassuma o comando do grupo de senadores do PMDB caso Sarney renuncie. Para os deputados peemedebistas, Renan é sinônimo da volta da guerra interna. ;É na coordenação política que as coisas acontecem, os projetos e as ideias do governo nascem. Com a inclusão de um peemedebista no grupo, as políticas já terão, no nascedouro, a posição do PMDB;, diz o líder da sigla na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Queda de braço
Maior bancada nas duas Casas, o PMDB comprou briga recentemente com o governo em dois temas considerados espinhosos: a renegociação das dívidas dos municípios com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o novo programa de recuperação fiscal (Refis). Em ambos os casos, defendeu que as parcelas dos devedores com o Fisco fossem corrigidas pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), de 6% ao ano , e não pela Selic, fixada em 9,25%. O Congresso aprovou o percentual mais baixo. Mas, a pedido de Lula, os parlamentares deixaram uma brecha para o presidente vetar a TJLP e substituí-la pela Selic, defendida pelo Ministério da Fazenda.
O pedido para integrar a coordenação política é uma velha demanda dos peemedebistas. Eles alegam que, como parceiros principais do PT, têm de participar da elaboração dos projetos do governo. E se mostram incomodados com o fato de serem apenas informados de decisões tomadas no Planalto. No início do ano, auxiliares recomendaram a Lula que negassem o pedido, a fim de não aguçar o apetite de outras legendas governistas. Atualmente, a coordenação tem nove integrantes. São eles: Lula (PT), o vice José Alencar (PRB) e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Tarso Genro (Justiça), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) e Franklin Martins (Comunicação Social).
Os integrantes da coordenação política
Dilma Rousseff
Petista, é a preferida de Lula para disputar a sucessão presidencial
Franklin Martins
Sem filiação partidária, tornou-se um dos principais conselheiros políticos de Lula
Guido Mantega
Petista, guarda a chave do cofre da União
Luiz Dulci
Petista, faz a ponte entre os movimentos sociais e o governo
Tarso Genro
Petista, assume o ônus de debater em público ideias polêmicas defendidas pelo presidente
José Múcio
Petebista, é o responsável pelo meio de campo entre o Planalto e o Congresso
Paulo Bernardo
Petista, adiciona o ingrediente político nas negociações da área econômica
Ruídos na parceria
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se rendeu ao óbvio: não é mais possível manter a desgastada relação entre petistas e peemedebistas no Senado. Ontem, na conversa com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), Lula firmou o compromisso de trabalharem juntos a fim de acabar com as brigas entre os dois partidos, alimentadas por diferenças pessoais entre Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tião Viana (PT-AC). A meta é impedir que um continue a vazar denúncias contra o outro. Renan debita na conta de Tião a divulgação de irregularidades na administração da Casa só para minar Sarney, que o derrotou na disputa pela presidência.
Já o petista afirma viver na linha de tiro do peemedebista. Nos bastidores, atribui a Renan, por exemplo, o vazamento dos gastos com telefone celular do Senado feitos por sua filha durante viagem ao México. Lula e Sarney querem dar fim à rusga. Assim, acham que terão chances de sobreviver à crise administrativa e manter os planos de unir as duas legendas na chapa presidencial encabeçada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nessa costura, outro motivo de preocupação é o líder do PT Aloizio Mercadante (SP), que também não se dá com Renan.
;O Lula mandou a gente rever a relação com o PMDB;, diz um cacique petista, relatando jantar entre o presidente e a bancada, na quinta-feira. Na corrida pela presidência do Senado, o PMDB se aliou ao DEM, enquanto o PT marchou com o PSDB. Para Lula, a ofensiva deflagrada por tucanos e democratas pelo afastamento de Sarney abre uma janela para o realinhamento das forças, levando-se em consideração as parcerias que serão formadas na sucessão presidencial. ;A queda de Sarney seria desastrosa para 2010;, lembrou Lula aos petistas. O recado foi reforçado por Dilma e pelo chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho. (DP)
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Resultado da enquete
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