"Se tiver tropa, eu fico". Assim, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), reagiu quando começaram a pipocar notícias sobre um possível afastamento. Foi então que caciques do PMDB - em especial o líder Renan Calheiros - entraram em campo para contabilizar quem está verdadeiramente em favor da permanência de Sarney no comando da Casa e aqueles que preferem a renúncia. Chegaram a 54 votos - de um total de 81 senadores - fechados com o peemedebista: 17 do PMDB, 7 do PTB, 1 do PDT, 6 do DEM, 4 do PSDB, 5 de pequenos partidos, e 7 do PT, a menor contabilidade proporcional.
[SAIBAMAIS]
Sarney seguiria para a conversa de ontem à noite com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com esse número no bolso, o segundo encontro dos dois sobre a crise em menos de uma semana. O primeiro foi no domingo, antes da viagem de Lula à Líbia, quando juntos avaliaram que o peemedebista deveria permanecer firme, resistindo aos solavancos como muitos que já enfrentou em sua vida pública. Não contavam àquela altura com as reações do DEM , do PDT, do PSDB e do próprio PT, esta revertida.
O que levou Sarney a contabilizar tantos apoios nos bastidores, apesar da posição oficial dos quatro partidos pelo seu afastamento, foi a certeza de que a saída dele da presidência não estancará a crise e pode provocar reações das mais diversas por parte daqueles que defendem o presidente. O DEM, por exemplo, que controla a Primeira-Secretaria há anos, teme virar alvo. E também não está descartada uma representação contra o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que confessou ter mantido à custa do Senado um assessor que passou mais de um ano fora do Brasil, sem autorização da área administrativa da Casa. Nos bastidores, a ala do PMDB mais aguerrida só se refere hoje a Arthur como "réu confesso".
Agora, com a situação de ontem mais branda do que a de terça-feira, os peemedebistas começaram a trabalhar nos bastidores com propostas para tentar aplainar o terreno, inclusive com a oposição. Estão em curso conversas para criação de novas instâncias na Casa, que possam cuidar do futuro do Senado, como a fixação de metas, redução de despesas, fusão de órgãos e até mesmo uma lei de responsabilidade fiscal para o Legislativo. É por aí que Sarney pretende motivar a tropa. "É preciso acabar com essa briga. Hoje, temos líderes que têm a capacidade de fomentar crise em cima de nada", diz o senador Almeida Lima (PMDB-SE).