Petrobras tenta descobrir o que pensam os brasileiros sobre a CPI
Por
30/06/2009 08:17
Jornal Correio Braziliense
Politica
Petrobras tenta descobrir o que pensam os brasileiros sobre a CPI
Por
30/06/2009 08:17
Para mensurar o impacto das notícias sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada no Senado para investigar a administração da Petrobras, a estatal contratou um instituto de pesquisa para fazer um estudo nas principais capitais do país. Na abordagem, o eleitor é questionado se já ouviu falar da CPI, se sabe do que se trata e se acredita que ela tenha motivações políticas ou eleitorais. Durante a entrevista, a faixa de renda e a quantidade de televisões, geladeiras e telefones que a pessoa possui também são levantados. O Correio apurou que, pelo menos em Brasília, o número de pessoas abordadas que desconhecem por completo a CPI, ou suas motivações, é alto.
[SAIBAMAIS]
Para comprovar, a reportagem foi até um dos locais onde os entrevistadores contratados pela Petrobras estavam abordando pessoas. A intenção era descobrir se o que está sendo negociado entre senadores da oposição e do governo desperta o interesse das ruas. A resposta? %u201CCPI da Petrobras? Nunca ouvi falar. Repete a sigla para mim, por favor? CPI%u2026 tem alguma coisa internacional aí no meio, né?%u201D, respondeu Erica Maria dos Reis, 18 anos, recuperadora de crédito que trabalha no Setor Comercial Sul.
Segundo a assessoria da Petrobras, a pesquisa foi iniciada no começo de junho %u2014 e os resultados não serão divulgados ao público. A estatal também não aponta o nome do instituto que faz o levantamento dos dados nem a quantidade de pessoas que serão ouvidas. "Essa é uma prática corrente das empresas que atuam em um mercado competitivo", justificou.
Entre as pessoas abordadas pelo Correio nas ruas, a maioria desconhecia a CPI ou fazia confusão com relação às motivações, ao objeto da investigação ou a quem pressionou pela sua instalação no Senado. As explicações sobre o porquê de uma investigação que envolve um dos pilares do investimento público no Brasil são ignoradas pela maioria da população. "As pessoas não conseguem acompanhar tantos escândalos. O cidadão normal precisa trabalhar, seguir com a vida. Ele pensa: %u2018não tenho quem roube para mim, então vou trabalhar'", analisa o cientista político Ricardo Caldas.
A avaliação de outro especialista é diferente. "Qual é a chance dessa CPI ter alguma repercussão? Só se atingir alguma personalidade política. O eleitor não julga instituições. Julga pessoas, nomes", sustentou o professor de ciências políticas Leonardo Barreto.
Privatização
Entre as pessoas entrevistadas pelo Correio, houve quem dissesse que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi criada para que o presidente Lula pudesse iniciar um processo de privatização da Petrobras, e que o PMDB estava capitaneando o processo de instalação da CPI. Respostas que são reflexo da confusão que o eleitorado faz dos assuntos que circulam no Congresso Nacional.
Houve também quem se posicionasse contra e a favor da investigação. A falta de informações corretas sobre o tema não se restringe a uma determinada faixa social, ou de renda. Entre os poucos entrevistados que descreveram o processo político da CPI com clareza, estava um engraxate, Valdecir Linhares Ponte, de 50 anos. "Aquele Congresso está uma vergonha. Mas temos que saber o que fazem com o nosso dinheiro. Eu sou favorável à investigação", disse.
E EU COM ISSO?
A Petrobras é uma das principais empresas públicas do Brasil e tem a União como o maior acionista. Ela já foi citada, por institutos de pesquisa do exterior, como uma das quatro empresas mais respeitadas do mundo. Em contrapartida, teve seu nome envolvido em investigações da Polícia Federal, como na Operação Águas Profundas, de julho de 2007, na qual um grupo foi acusado de fraudar licitações para a construção de plataformas da estatal. A CPI que pretende investigar a Petrobras foi criada no Senado em 15 de maio, mas ainda não foi efetivamente instalada. Desde então, governo e oposição brigam pela relatoria da CPI. A promessa é de que ela seja instalada dia 30. O PSDB abriu mão da relatoria, em nome do início das investigações. Desde o agravamento da crise do Senado, envolvendo o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia e o presidente, José Sarney (PMDB-AP), a CPI deixou de ser foco das atenções.