A escolha do presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, para disputar a Presidência do PT pela Construindo um Novo Brasil (CNB), a corrente que integra o maior número de militantes do partido, deve ganhar adesão imediata de outras duas tendências, mas terá dificuldade dentro da Movimento PT. Segundo parlamentares do campo majoritário, Dutra não deve enfrentar problemas para se consolidar dentro da corrente. O deputado cassado José Dirceu era a principal resistência à indicação, mas prometeu ajuda (ainda que comedida) dentro do partido. As tendências Novos Rumos e PT de Luta e de Massas devem anunciar o apoio formal a Dutra.
O líder na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), da Novos Rumos, afirmou que apoiará o presidente da BR Distribuidora. ;Ele é qualificado, tem experiência política, de articulação e administrativa;, elogiou. O deputado Jilmar Tatto (SP), da PT de Luta e de Massas, também disse ter simpatia pela candidatura de Dutra.
O ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP), do Movimento PT, disse que o apoio à candidatura única seria mais forte caso Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tivesse sido indicado. ;Vai ser um processo de construção. Eu não encaro como algo acabado (a indicação de Dustra);, disse, elogiando a decisão do campo majoritário de consultar outras tendências sobre a viabilidade de seu candidato. ;Quando o CNB diz que vai conversar com outras forças, abre espaço para construir a unidade. Seria bom evitar a disputa interna;, disse Chinaglia. O Movimento PT lançou três pré-candidatos à presidência do partido, os deputados Virgílio Guimarães (MG), Maria do Rosário (RS) e Geraldo Magela (DF).
Se essa corrente apoiar Dutra, como desejam os integrantes do campo majoritário, a disputa pela presidência do PT, marcada para o fim do ano, deve se limitar a outros dois candidatos, os deputados José Eduardo Cardozo (SP), pela Mensagem ao Partido, corrente cujo expoente é o ministro da Justiça, Tarso Genro, e Iriny Lopes (ES), da Articulação de Esquerda.
Perfil
José Eduardo Dutra formou-se em geologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, sua terra natal. Mudou-se para Sergipe na década de 80 para trabalhar em exploração mineral. Lá entrou para o movimento sindical e fez carreira política pelo PT. O retrospecto das urnas do provável presidente do partido, contudo, é de um pé frio. Concorreu cinco vezes a cargos eletivos, mas só venceu em 1994, quando se tornou senador. Perdeu as disputas para deputado federal (1986), governador (1990 e 2002) e senador (2006).
Durante o governo Fernando Henrique (1995-2002), teve destacada atuação, chegando a líder da oposição no Senado. Em 2001, articulou a criação da CPI da Corrupção, que pretendia investigar 16 irregularidades do governo federal: um cardápio variado que ia do suposto tráfico de influência do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge, passando por corrupção na Superintendência da Amazônia (Sudam) até irregularidades na emissão de CPFs na Bahia. A base de apoio a FHC, contudo, conseguiu arquivar o pedido de instalação da CPI. Dutra, de 52 anos, presidiu por dois anos a Petrobras e, desde 2007, comanda a BR Distribuidora.