Sem aval do governo, deputados da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva querem jogar água na CPI exclusiva do Senado para investigar supostas irregularidades na Petrobras. A ideia é criar uma comissão mista de inquérito, controlar os trabalhos e deixar a oposição sem margem para barulho ou disputa política mirando 2010.
A iniciativa é alimentada pelo deputado André Vargas (PT-PR) e vista com bons olhos por setores governistas do PMDB. O parlamentar paranaense promete começar a coletar assinaturas caso o PT lhe dê aval. O tema será discutido hoje em reunião da bancada. ;Em momentos de crise, todos protegem suas empresas. Esta CPI é uma irresponsabilidade e só criará dificuldades para a Petrobras;, disse Vargas.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou que estrategicamente é melhor ter uma CPI com a participação dos deputados e não uma somente com senadores. Desde 2003, o governo Lula controla com rédeas mais curtas os movimentos dos deputados, mas não consegue limitar o jogo no Senado, onde a maioria governista é mais frágil. ;Sou favorável (a uma CPI mista). Se isso for uma decisão do governo, estrategicamente é melhor;, afirmou.
Mas o ministro de Relações Institucionais, José Múcio, não está convencido da estratégia e teme que os esforços desses governistas levem à criação de duas comissões de inquérito. Ele disse que, apesar da autonomia dos deputados, é contrário à CPI mista. ;Se uma não é boa, imagine duas;, disse. A CPI da Petrobras no Senado vem dando bastante trabalho para o governo. Além de um pedido do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) havia um outro de Romeu Tuma (PTB-SP), tido como governista e correligionário de Múcio.
Petistas e peemedebistas ainda não descartam negociar com tucanos para evitar a CPI no Senado, apesar de governo, ministros e senadores darem como certa a instalação da comissão, que deve começar os trabalhos em, no mínimo, 15 dias.
Avaliação
O líder do PT, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse também ser contrário à CPI mista e promete trabalhar para engavetar a ideia a ser apresentada por André Vargas à bancada. ;Não é porque o PSDB foi irresponsável e inconsequente que vamos responder com a mesma irresponsabilidade;, afirmou.
José Aníbal (SP), líder tucano, disse que fará uma avaliação da iniciativa dos deputados governistas e só apoiará se houver aval da oposição no Senado. Ele lembrou, no entanto, que movimentos anteriores de criar CPIs funcionando nas duas casas, como a do Apagão Aéreo e dos Cartões Corporativos, serviram apenas para evitar investigações sérias e profundas. Nessas duas comissões, os assuntos se repetiram e ficaram presos numa disputa entre governo e oposição e não chegaram a conclusões relevantes.
;Vamos conversar com os senadores e fazer uma avaliação disso. Ver se não é só uma manobra do governo;, disse Aníbal, reforçando a necessidade da investigação parlamentar. ;O fato é que o governo não terá como subtrair informações importantes da Petrobras; por exemplo, como a empresa faz a contratações de seus serviços e por que ela contrata e paga por serviços sem qualidade. Faz patrocínios que são além do que é de interesse de uma empresa de petróleo. Tudo isso tem que ser investigado;, afirmou o tucano de São Paulo.
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