O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), cobrou nesta segunda-feira uma postura "responsável" da oposição nas investigações da CPI da Petrobras. O petista afirmou que, em meio à crise econômica internacional, a imagem da estatal não pode ser arranhada por "disputas político-eleitorais".
"A CPI me parece uma iniciativa que está sempre disponível às oposições. Onde o PSDB é governo, eles combatem a CPI. No Rio Grande do Sul, o pedido de CPI não tem o apoio do PSDB porque lá eles são governo. No âmbito do Senado é que considero a Petrobras não apenas uma empresa absolutamente estratégica ao Brasil, como cumpre papel importante nessa conjuntura internacional", afirmou.
Mercadante disse que não há acordo previsto pelo regimento do Senado que assegure à oposição ficar com a presidência ou a relatoria da CPI da Petrobras. O senador lamentou que o PSDB tenha rompido o acordo de suspender a criação da CPI ao sinalizar que os governistas pretendem brigar pelos cargos de comando da comissão.
"A tradição tem sido quebrada muitas vezes. Recentemente, tivemos uma tradição quebrada na presidência da comissão de infra-estrutura. Vamos buscar o melhor caminho. O que interessa é que as indicações partidárias sejam os melhores quadros. Que a CPI não seja palanque eleitoral", afirmou o petista.
Tradicionalmente, o Senado divide os cargos de comando das CPIs entre o governo e a oposição --um fica com a relatoria e, o outro, com a presidência. A última CPI instalada na Casa, que investiga crimes de pedofilia, tem em sua relatoria um senador da oposição, Demóstenes Torres (DEM-GO). Por esse motivo, os governistas sustentam que agora a relatoria cabe à base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A tradição, no entanto, não vem sendo seguida à risca no Senado. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), escolhida pelo PT para presidir a Comissão de Infra-Estrutura da Casa, acabou derrotada no voto pelo senador Fernando Collor de Mello (PTB-SP) para o cargo, o que irritou os petistas.
Em meio ao impasse, líderes partidários devem se reunir amanhã com o ministro José Múcio (Relações Institucionais) para definir a estratégia de ação dos governistas na CPI. Oficialmente, Mercadante afirma que a disposição dos governistas é debater a Petrobras sem trazer prejuízos à sua imagem.
Críticas O senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) defendeu, da tribuna do Senado, a criação da CPI da Petrobras. Jarbas disse que a oposição tem direito como minoria de sugerir investigações sobre áreas onde há suspeitas de fraudes.
"O presidente da República afirma que a CPI é eleitoreira. Quem foi que montou um palanque eleitoral no começo deste ano, apelidado de PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], e lançou a candidatura da ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República? O senhor Luiz Inácio Lula da Silva", disse Jarbas.
Assim como o peemedebista, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) subiu à tribuna do Senado para defender a criação da CPI. Depois de retirar sua assinatura do pedido de instalação da comissão, Cristovam disse que as investigações não têm como objetivo prejudicar a estatal. "Há fatos na administração da Petrobras que precisam ser esclarecidos. Há, sim, suspeitas de partidarismo na Petrobras. A gente tem de apurar isso", afirmou.
Cristovam disse que retirou sua assinatura da CPI depois que o PSDB quebrou o acordo de instalar a comissão somente após ouvir o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Mas garantiu que não cedeu às pressões do governo para impedir a instalação da CPI.
"Com a mesma convicção que assinei também retirei, embora lamentando profundamente porque sei que é um gesto de grande desgaste. O governo não me deve nada por isso. Não houve nem contato durante todo aquele dia com pessoas do governo", afirmou.