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Reunião do Conselho de Ética vira ato contra a imprensa

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Brasília - A reunião do Conselho de Ética da Câmara para discutir a relatoria do processo contra o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG) virou um ato contra a imprensa. A maior parte das críticas ao trabalho dos jornalistas partiu de deputados que não integram o órgão disciplinar e são correligionários do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que deve ser substituído nesta quarta-feira na relatoria do caso. Moraes foi criticado após sinalizar que engavetaria o processo contra Moreira e de dizer que "se lixa" para a opinião pública. O deputado Ernandes Amorim (PTB-RO) saiu em defesa do colega questionando o trabalho da imprensa. "Eu fui senador, e quando cheguei ao Senado a primeira que a imprensa fez foi levantar calúnias contra mim. Muita gente no Congresso Nacional morreu por injustiças cometidas pela imprensa. A estrutura humana não aguenta ser desafiado", disse. O discurso foi seguido pelo deputado Marcelo Ortiz (PV-SP), que apelou para o corporativismo. "Ele não pode ser julgado pela imprensa. Amanhã podemos ser nós", afirmou. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), questionou o presidente do órgão disciplinar, José Carlos Araújo (PR-BA), por ter dito à imprensa sobre a substituição da relatoria. Jovair disse que o colega foi mal entendido. "Acho pouco convencional que seja discutido pela imprensa. Me preocupa a maneira como foi tratado o assunto. Os deputados do Rio Grande do Sul têm eloquência diferente dos outros, mas têm uma conduta exemplar. Ele precisa ser respeitado como pessoa que tem opinião e aqui é uma Casa de opinião divergentes, justa ou injusta, e podemos receber todas e levar a voto", disse. Jovair disse que Araújo estaria retrocedendo aos tempos do regime militar se insistisse na mudança da relatoria. "Se o senhor usar o instrumento de força maior para tirar a relatoria, o senhor vai voltar aos tempos da ditadura. Nós estamos na democracia", afirmou. Ao defender sua permanência na relatoria do caso, Moraes também atacou a imprensa e voltou a dizer que "se lixava" para os jornalistas. "Entre ficar com a verdade e a honra e belas noticias em jornais e televisão eu fico com a minha honra e estou me lixando o que vão escrever", disse. Na reunião de lideres de ontem com o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), Jovair saiu em defesa do correligionário e sinalizou que o partido não vai retirar a indicação dele para a vaga no conselho. No fim do dia, o PT também anunciou apoio a Moraes. Moraes, que acusa a imprensa de distorcer o que disse e só fala com jornalista gravando a conversa com um gravador próprio, resiste em deixar a relatoria. Ele disse que já tem um mandado de segurança para pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) para continuar no posto.