Apontado como o principal operador financeiro do esquema do mensalão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza pretende desmontar, no Supremo Tribunal Federal (STF), a versão de que dinheiro público irrigou a suposta mesada paga para que parlamentares votassem a favor do governo no primeiro mandato Lula. O advogado do empresário, Marcelo Leonardo, entrou com um recurso no STF para que uma empresa de auditoria independente realize nova perícia no contrato de prestação de serviços de publicidade entre a DNA Propaganda, de Marcos Valério, e a Visanet, empresa que tem como um dos sócios o Banco do Brasil, uma estatal.
O pedido de Marcos Valério deseja anular a imputação do crime de peculato ; desvio de dinheiro público. Na denúncia criminal aceita pelo STF em agosto de 2007, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, afirmou que dinheiro público, por meio dos pagamentos do BB à Visanet, abasteceu o mensalão. Laudo da Polícia Federal divulgado à época disse que houve, durante o período do mensalão, depósitos do banco estatal diretamente na conta da DNA Propaganda, quando a prática anterior era de os repasses serem feitos aos fornecedores.
Contudo, a defesa de Marcos Valério sustenta que o laudo da PF não é conclusivo sobre a origem dos recursos do caso Visanet. ;A própria PF não conseguiu configurar isso (a origem pública dos recursos);, declarou Marcelo Leonardo. ;Queremos deixar isso claro: são empréstimos privados de empresas privadas;, sustenta. No caso do mensalão, Marcos Valério responde a processo, além do crime de peculato, por formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Para reforçar o recurso apresentado há duas semanas, o advogado do empresário tem como trunfo recente decisão do ministro Joaquim Barbosa, relator do processo. Em meados de abril, o relator aceitou a realização de uma segunda perícia da Polícia Federal para verificar se a Visanet ;recebeu ou administrou recursos públicos, especialmente provenientes do Banco do Brasil;. Os pedidos foram solicitados por Marcos Valério e Henrique Pizzolato, que comandava o marketing do banco estatal. Mas a defesa do empresário não quer a PF novamente fazendo perícias.
Até o fim do ano, o processo do mensalão colhe mais de 500 depoimentos das testemunhas de defesa dos 39 réus. Na fase atual, perícias podem ser refeitas, de acordo com o código de processo penal, para serem submetidas ao contraditório judicial ; como no caso Visanet. O relator do mensalão ainda não apreciou o pedido do advogado de Marcos Valério. A previsão é de que o processo vá a julgamento apenas em 2011.