Há fantasmas a assustar o erário na cúpula da Câmara. Mais precisamente na sala onde funciona a liderança do PTB, a menos de 100 passos do plenário da Casa, e na Quarta-Secretaria, onde o também petebista Nelson Marquezelli (SP) administra a carteira de imóveis da Casa. Ao contrário dos filmes de terror, porém, esses fantasmas são de carne e osso. Recebem salários gordos e vivem por aí da mesma forma que todos os vivos. Só não aparecem para trabalhar.
É o que parece ser o caso de Patrícia Seixas. Ela ocupa um cargo de confiança na liderança do PTB, pelo qual faz jus a um salário nada modesto de quase R$ 5 mil mensais. Patrícia está na folha da Câmara há anos, mas é pouco conhecida por lá. Nas últimas duas semanas, o Correio esteve nos locais onde ela deveria dar expediente todos os dias, em horários distintos. Num primeiro momento, os colegas diziam conhecê-la. Mas depois admitiram jamais tê-la visto trabalhando. Não sabiam sequer descrevê-la fisicamente. A chefe de gabinete, Marli Guaraciaba, afirmou que a funcionária, em todas as ocasiões da visita da reportagem, estava em trabalhos externos. ;Não sei por que as pessoas dizem que não a conhecem. Ela trabalha e não é fantasma. Para alguém dizer isso é porque está insatisfeito com alguma coisa;, diz.
Patrícia era amiga do falecido José Carlos Martinez, que era presidente do PTB quando morreu. Daí contar com a proteção do gabinete. Quanto a outras auxiliares assombrosas, porém, Marli Guaraciaba defende com menos ênfase. Rosangela Rodrigues, ocupante de um cargo que paga pouco mais de R$ 3 mil por mês, apenas entrega relatórios mensais sobre as atividades que exerce fora da liderança. ;Não é porque a pessoa não está plantada no gabinete que não trabalha;, despista a chefe. O líder do partido, Jovair Arantes (GO), jura não saber quem são as servidoras. E explica ter delegado a parte administrativa das nomeações à chefia de gabinete.
Trocando favores
Rute Cardoso é um exemplo de como o dinheiro público é entregue a pessoas que não prestam serviços públicos. Com salário de cerca de R$ 5 mil, pouco se sabe sobre ela na Quarta-Secretaria, onde deveria permanecer pelo menos no horário de expediente. Colegas dizem que já a viram algumas vezes, mas não sabem o motivo de ela não trabalhar todos os dias. Perguntado sobre a servidora, Nelson Marquezelli (PTB-SP) admite algo chamado na boa regra administrativa de desvio de função. Segundo ele, Rute recebe pela Quarta-Secretaria, mas trabalha mesmo para a liderança. Curiosamente, a própria Rute desmente a versão. ;Todos os dias estou lá na Quarta-Secretaria trabalhando;, disse, por telefone, momentos antes de a ligação cair sem que ela explicasse o porquê de nunca ser vista por lá e de os colegas não conseguirem sequer descrevê-la.
No mesmo gabinete está lotada Synara Rodrigues. Com salário de mais de R$ 9 mil, a servidora é filha de Henrique Rodrigues, chefe de secretaria da liderança do PTB, partido ao qual pertence o quarto-secretário, Marquezelli. Rodrigues diz que a nomeação da filha é recente, admite que articulou a favor, mas nega que seja um caso de nepotismo decorrente da influência que possui no partido. ;Nada disso. Pedi para colocá-la e isso não é proibido. Não tenho cargo de confiança. Sou funcionário efetivo da Casa;, alega.