O delegado Protógenes Queiroz disse nesta terça-feira que recebeu com "tranquilidade e indignação" a decisão da Polícia Federal de afastá-lo da instituição. A PF determinou o seu afastamento até o final do processo disciplinar instaurado contra ele no último dia 3 por ter participado de um comício político, em Minas Gerais, no qual teria feito um discurso em nome da instituição.
Em entrevista por telefone à *Folha Online*, Protógenes disse que vai "continuar resistindo judicialmente" para se manter na corporação. Apesar de tentar demonstrar tranquilidade com o seu afastamento e confiar na sua absolvição, o delegado afirmou que não considera a decisão da PF "praxe" da instituição.
"Praxe seria se mais pessoas fossem afastadas além de mim. Pessoas da cúpula, essas que a CPI [dos Grampos da Câmara] está convocando", disse sem revelar nomes.
O delegado negou ter falado em nome da PF durante o comício realizado em setembro do ano passado. Protógenes disse que apenas concordou com Paulo Tadeu Silva D´Arcádia, então candidato do PT a prefeito de Poços de Caldas (MG), quando ele exaltou os trabalhos da Polícia Federal.
"Eles falam em atuação política em comício, mas não houve isso. É uma informação mentirosa. Eu não tenho filiação partidária nenhuma, busquei contribuir com a moralidade administrativa. Ele [candidato] ressaltava o trabalho da Polícia Federal como uma instituição importante para o Brasil, eu lógico que admiti isso. Como cidadão, eu tenho que ressaltar os trabalhos da Polícia Federal", afirmou.
Protógenes afirmou que vai sempre falar contra a "impunidade e a corrupção" mesmo que venha a enfrentar futuros processos administrativos dentro da PF. "A leitura que eu tenho é o contrário. Eu vou continuar falando contra a impunidade e a corrupção e poderei responder a quantos processos forem necessários por falar. Isso é um dever nosso." O delegado confirmou que pediu formalmente à PF para ter acesso ao processo disciplinar que ele responde pela sua participação no comício. "Eu já fiz essa solicitação, eles [PF] não me deram acesso até a presente data." O processo disciplinar da Polícia Federal pode resultar na demissão do delegado se, ao final das investigações, ficar comprovado que ele infringiu as normas da PF ao falar pela instituição durante o comício político. A PF decidiu pelo afastamento de Protógenes no último dia 9.
Protógenes já responde a um segundo processo disciplinar na Polícia Federal por suspeitas de vazamento de informações da Operação Satiagraha. *Lula.
Questionado sobre a suposta orientação do Palácio do Planalto para deflagar a Operação Satiagraha, Protógenes disse que havia interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, fosse investigado durante a operação. "Evidente que tem interesses do presidente [Lula] uma vez que o banqueiro tem mais de mil concessões de exploração do nosso subsolo", afirmou.
Na semana passada, ao prestar depoimento à CPI das Escutas Clandestinas da Câmara, Protógenes manteve-se em silêncio quando questionado sobre a suposta determinação do presidente Lula para a realização da Operação Satiagraha. O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), disse que o delegado "perdeu a oportunidade" de esclarecer detalhes da operação.