Jornal Correio Braziliense

Politica

Sarney tenta direcionar cobertura da mídia a assuntos diferentes da crise no Senado

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O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), confidenciou a interlocutores que não quer permanecer refém da crise que atingiu a Casa. Ele pretende mudar a agenda do Legislativo e direcionar a cobertura da mídia para assuntos diferentes da enxurrada de denúncias que atingiu o Congresso nas últimas semanas. ;O Senado precisa votar;, repetiu, em várias conversas reservadas. Esta semana, ele deu um passo nessa estratégia. Pediu à sua assessoria um levantamento da produtividade legislativa e leu os resultados em plenário. O relatório diz que os senadores votaram 150 projetos em plenário em março, o que seria o melhor resultado para o mês nos últimos 10 anos. A divulgação tem dois objetivos. O primeiro é demonstrar que a crise não paralisou o Senado. O recado, nesse caso, é tanto para o público interno quanto para o externo. Parlamentares experientes estão impressionados com o clima de nervosismo que tomou a Casa nos últimos meses. Há troca de acusações nos bastidores e muitas suspeitas de que adversários políticos estariam por trás do vazamento de informações comprometedoras sobre contas telefônicas, funcionários fora de função e outras denúncias. Sarney considera importante restaurar a confiança dos parlamentares. ;A Casa está em pleno funcionamento;, disse, em seu discurso no plenário. Por outro lado, quer demonstrar que há outros assuntos no Senado que merecem cobertura. Acredita que, se a Casa assumir o protagonismo político e votar uma pauta cheia de projetos relevantes, a imprensa não terá outra opção a não ser registrar isso, deixando de lado a pauta das denúncias. Holofotes Outra decisão da cúpula do Senado é a de tentar tirar da linha de frente do tiroteio Sarney e o primeiro-secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI). Ao longo das últimas semanas, os dois passaram a maior parte do tempo tendo de explicar alguma denúncia sobre o Senado. Primeiro foi o excesso de diretores. Depois foram desvios em gastos telefônicos, acusações de nepotismo disfarçado pela contratação de parentes de funcionários por empresas terceirizadas e irregularidades em contratos. A estratégia foi concentrar o poder de responder sobre questões administrativas ao diretor-geral da Casa, José Alexandre Lima Gazzineo. O próprio diretor editou uma norma segundo a qual sempre que os jornalistas quiserem informações devem dirigir-se a ele por escrito. Com isso, será ele quem assumirá o desgaste das respostas. Oficialmente, a decisão foi sua e não da Mesa Diretora. Mas o comando do Senado avalizou o movimento.